O tema deste domingo é, evidentemente, o Espírito Santo. Dom de
Deus a todos os crentes, o Espírito dá vida, renova, transforma, constrói
comunidade e faz nascer o Homem Novo.
O Evangelho apresenta-nos a comunidade cristã, reunida à volta
de Jesus ressuscitado. Para João, esta comunidade passa a ser uma comunidade
viva, recriada, nova, a partir do dom do Espírito. É o Espírito que permite aos
crentes superar o medo e as limitações e dar testemunho no mundo desse amor que
Jesus viveu até às últimas consequências.
Na primeira leitura, Lucas sugere que o Espírito é a lei nova
que orienta a caminhada dos crentes. É Ele que cria a nova comunidade do Povo
de Deus, que faz com que os homens sejam capazes de ultrapassar as suas
diferenças e comunicar, que une numa mesma comunidade de amor, povos de todas
as raças e culturas.
Na segunda leitura, Paulo avisa que o Espírito é a fonte de onde
brota a vida da comunidade cristã. É Ele que concede os dons que enriquecem a
comunidade e que fomenta a unidade de todos os membros; por isso, esses dons
não podem ser usados para benefício pessoal, mas devem ser postos ao serviço de
todos.
Primeira Leitura (At 2,1-11.)
Leitura
dos Atos dos Apóstolos: 1Quando chegou o dia de Pentecostes, os
discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar. 2De repente, veio
do céu um barulho como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde eles
se encontravam. 3Então apareceram línguas como de fogo que se repartiram
e pousaram sobre cada um deles. 4Todos ficaram cheios do Espírito
Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava. 5Moravam
em Jerusalém judeus devotos, de todas as nações do mundo. 6Quando
ouviram o barulho, juntou-se a multidão, e todos ficaram confusos, pois cada um
ouvia os discípulos falar em sua própria língua. 7Cheios de espanto
e admiração, diziam: “Esses homens que estão falando não são todos galileus? 8Como
é que nós os escutamos na nossa própria língua? 9Nós, que somos
partos, medos e elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia,
do Ponto e da Ásia, 10da Frígia e da Panfília, do Egito e da parte
da Líbia próxima de Cirene, também romanos que aqui residem; 11judeus
e prosélitos, cretenses e árabes, todos nós os escutamos anunciarem as
maravilhas de Deus em nossa própria língua!” – Palavra do Senhor. – Graças a
Deus.
AMBIENTE
Já vimos, no comentário aos textos dos domingos anteriores, que
o livro dos “Atos” não pretende ser uma reportagem jornalística de
acontecimentos históricos, mas sim ajudar os cristãos – desiludidos porque o
“Reino” não chega – a redescobrir o seu papel e a tomar consciência do
compromisso que assumiram, no dia do seu batismo.
No que diz respeito ao texto que nos é proposto e que descreve
os acontecimentos do dia do Pentecostes, não existem dúvidas de que é uma
construção artificial, criada por Lucas com uma clara intenção teológica. Para
apresentar a sua catequese, Lucas recorre às imagens, aos símbolos, à linguagem
poética das metáforas. Resta-nos descodificar os símbolos para chegarmos à
interpelação essencial que a catequese primitiva, pela palavra de Lucas, nos
deixa. Uma interpretação literal deste relato seria, portanto, uma boa forma de
passarmos ao lado do essencial da mensagem; far-nos-ia reparar na roupagem
exterior, no folclore, e ignorar o fundamental. Ora, o interesse fundamental do
autor é apresentar a Igreja como a comunidade que nasce de Jesus, que é
assistida pelo Espírito e que é chamada a testemunhar aos homens o projeto
libertador do Pai.
MENSAGEM
Antes de mais, Lucas coloca a experiência do Espírito no dia de
Pentecostes. O Pentecostes era uma festa judaica, celebrada cinquenta dias após
a Páscoa. Originariamente, era uma festa agrícola, na qual se agradecia a Deus
a colheita da cevada e do trigo; mas, no séc. I, tornou-se a festa histórica
que celebrava a aliança, o dom da Lei no Sinai e a constituição do Povo de
Deus. Ao situar neste dia o dom do Espírito, Lucas sugere que o Espírito é a
lei da nova aliança (pois é Ele que, no tempo da Igreja, dinamiza a vida dos
crentes) e que, por Ele, se constitui a nova comunidade do Povo de Deus – a
comunidade messiânica, que viverá da lei inscrita, pelo Espírito, no coração de
cada discípulo (cf. Ez 36,26-28).
Vem, depois, a narrativa da manifestação do Espírito (At 2,2-4). O Espírito é
apresentado como “a força de Deus”, através de dois símbolos: o vento de
tempestade e o fogo. São os símbolos da revelação de Deus no Sinai, quando Deus
deu ao Povo a Lei e constituiu Israel como Povo de Deus (cf. Ex 19,16.18; Dt
4,36). Estes símbolos evocam a força irresistível de Deus, que vem ao encontro
do homem, comunica com o homem e que, dando ao homem o Espírito, constitui a
comunidade de Deus.
O Espírito (força de Deus) é apresentado em forma de língua de
fogo. A língua não é somente a expressão da identidade cultural de um grupo
humano, mas é também a maneira de comunicar, de estabelecer laços duradouros
entre as pessoas, de criar comunidade. “Falar outras línguas” é criar relações,
é a possibilidade de superar o gueto, o egoísmo, a divisão, o racismo, a
marginalização… Aqui, temos o reverso de Babel (cf. Gn 11,1-9): lá, os homens
escolheram o orgulho, a ambição desmedida que conduziu à separação e ao
desentendimento; aqui, regressa-se à unidade, à relação, à construção de uma
comunidade capaz do diálogo, do entendimento, da comunicação. É o surgimento de
uma humanidade unida, não pela força, mas pela partilha da mesma experiência
interior, fonte de liberdade, de comunhão, de amor. A comunidade messiânica é a
comunidade onde a ação de Deus (pelo Espírito) modifica profundamente as
relações humanas, levando à partilha, à relação, ao amor.
É neste enquadramento que devemos entender os efeitos da manifestação do
Espírito (cf. At 2,5-13): todos “os ouviam proclamar na sua própria língua as
maravilhas de Deus”. O elenco dos povos convocados e unidos pelo Espírito
atinge representantes de todo o mundo antigo, desde a Mesopotâmia, passando por
Canaan, pela Ásia Menor, pelo norte de África, até Roma: a todos deve chegar a
proposta libertadora de Jesus, que faz de todos os povos uma comunidade de amor
e de partilha. A comunidade de Jesus é assim capacitada pelo Espírito para
criar a nova humanidade, a anti-Babel. A possibilidade de
ouvir na própria língua “as maravilhas de Deus” outra coisa não é do que a
comunicação do Evangelho, que irá gerar uma comunidade universal. Sem deixarem
a sua cultura e as suas diferenças, todos os povos escutarão a proposta de
Jesus e terão a possibilidade de integrar a comunidade da salvação, onde se
fala a mesma língua e onde todos poderão experimentar esse amor e essa comunhão
que tornam povos tão diferentes, irmãos. O essencial passa a ser a experiência
do amor que, no respeito pela liberdade e pelas diferenças, deve unir todas as
nações da terra.
O Pentecostes dos “Atos” é, podemos dizê-lo, a página
programática da Igreja e anuncia aquilo que será o resultado da ação das
“testemunhas” de Jesus: a humanidade nova, a anti-Babel, nascida da ação do
Espírito, onde todos serão capazes de comunicar e de se relacionar como irmãos,
porque o Espírito reside no coração de todos como lei suprema, como fonte de
amor e de liberdade.
ATUALIZAÇÃO
Para a reflexão, considerar as seguintes indicações:
• Temos, neste texto, os elementos essenciais que definem a
Igreja: uma comunidade de irmãos reunidos por causa de Jesus, animada pelo
Espírito do Senhor ressuscitado e que testemunha na história o projeto
libertador de Jesus. Desse testemunho resulta a comunidade universal da
salvação, que vive no amor e na partilha, apesar das diferenças culturais e
étnicas. A Igreja de que fazemos parte é uma comunidade de irmãos que se amam,
apesar das diferenças? Está reunida por causa de Jesus e à volta de Jesus? Tem
consciência de que o Espírito está presente e que a anima? Testemunha, de forma
efetiva e coerente, a proposta libertadora que Jesus deixou?
• Nunca será demais realçar o papel do Espírito na tomada de
consciência da identidade e da missão da Igreja… Antes do Pentecostes, tínhamos
apenas um grupo fechado dentro de quatro paredes, incapaz de superar o medo e
de arriscar, sem a iniciativa nem a coragem do testemunho; depois do
Pentecostes, temos uma comunidade unida, que ultrapassa as suas limitações
humanas e se assume como comunidade de amor e de liberdade. Temos consciência
de que é o Espírito que nos renova, que nos orienta e que nos anima? Damos
suficiente espaço à ação do Espírito, em nós e nas nossas comunidades?
• Para se tornar cristão, ninguém deve ser espoliado da própria
cultura: nem os africanos, nem os europeus, nem os sul-americanos, nem os
negros, nem os brancos; mas todos são convidados, com as suas diferenças, a
acolher esse projeto libertador de Deus, que faz os homens deixarem de viver de
costas voltadas, para viverem no amor. A Igreja de que fazemos parte é esse
espaço de liberdade e de fraternidade? Nela todos encontram lugar e são
acolhidos com amor e com respeito – mesmo os de outras raças, mesmo aqueles de
quem não gostamos, mesmo aqueles que não fazem parte do nosso círculo, mesmo
aqueles que a sociedade marginaliza e afasta?
Salmo Responsorial – Salmo 103 (104)
Enviai o
vosso Espírito, Senhor,/ e da terra toda a face renovai!
Enviai o vosso Espírito, Senhor,/ e da terra
toda a face renovai!
—
Bendize, ó minha alma, ao Senhor!/ Ó meu Deus e meu Senhor, como sois grande!/
Quão numerosas, ó Senhor, são vossas obras!/ Encheu-se a terra com as vossas
criaturas!
— Se
tirais o seu respiro, elas perecem/ e voltam para o pó de onde vieram./ Enviais
o vosso espírito e renascem/ e da terra toda a face renovais.
— Que a
glória do Senhor perdure sempre,/ e alegre-se o Senhor em suas obras!/ Hoje
seja-lhe agradável o meu canto,/ pois o Senhor é a minha grande alegria!
Segunda Leitura (1Cor 12,3b-7.12-13.)
Leitura
da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios: Irmãos: 3bNinguém pode
dizer: Jesus é o Senhor, a não ser no Espírito Santo. 4Há
diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. 5Há diversidade de
ministérios, mas um mesmo é o Senhor. 6Há diferentes atividades, mas
um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos. 7A cada um é
dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum. 12Como o
corpo é um, embora tenha muitos membros, e como todos os membros do corpo,
embora sejam muitos, formam um só corpo, assim também acontece com Cristo. 13De
fato, todos nós, judeus ou gregos, escravos ou livres, fomos batizados num
único Espírito, para formarmos um único corpo, e todos nós bebemos de um único
Espírito. – Palavra do Senhor. – Graças a Deus.
AMBIENTE
A comunidade cristã de Corinto era viva e fervorosa, mas não era
uma comunidade exemplar no que diz respeito à vivência do amor e da
fraternidade: os partidos, as divisões, as contendas e rivalidades perturbavam
a comunhão e constituíam um contra-testemunho. As questões à volta dos
“carismas” (dons especiais concedidos pelo Espírito a determinadas pessoas ou
grupos para proveito de todos) faziam-se sentir com especial acuidade: os
detentores desses dons carismáticos consideravam-se os “escolhidos” de Deus,
apresentavam-se como “iluminados” e assumiam com frequência atitudes de
autoritarismo e de prepotência que não favorecia a fraternidade e a liberdade;
por outro lado, os que não tinham sido dotados destes dons eram desprezados e
desclassificados, considerados quase como “cristãos de segunda”, sem vez nem
voz na comunidade.
Paulo não pode ignorar esta situação. Na Primeira Carta aos Coríntios, ele
corrige, admoesta, dá conselhos, mostra a incoerência destes comportamentos,
incompatíveis com o Evangelho. No texto que nos é proposto, Paulo aborda a
questão dos “carismas”.
MENSAGEM
Em primeiro lugar, Paulo acha que é preciso saber ajuizar da
validade dos dons carismáticos, para que não se fale em “carismas” a propósito
de comportamentos que pretendem apenas garantir os privilégios de certas
figuras. Segundo Paulo, o verdadeiro “carisma” é o que leva a confessar que
“Jesus é o Senhor” (pois não pode haver oposição entre Cristo e o Espírito) e
que é útil para o bem da comunidade.
De resto, é preciso que os membros da comunidade tenham consciência de que,
apesar da diversidade de dons espirituais, é o mesmo Espírito que atua em
todos; que apesar da diversidade de funções, é o mesmo Senhor Jesus que está
presente em todos; que apesar da diversidade de ações, é o mesmo Deus que age
em todos. Não há, portanto, “cristãos de primeira” e “cristãos de segunda”. O
que é importante é que os dons do Espírito resultem no bem de todos e sejam
usados – não para melhorar a própria posição ou o próprio “ego” – mas para o
bem de toda a comunidade.
Paulo conclui o seu raciocínio comparando a comunidade cristã a
um “corpo” com muitos membros. Apesar da diversidade de membros e de funções, o
“corpo” é um só. Em todos os membros circula a mesma vida, pois todos foram batizados
num só Espírito e “beberam” um único Espírito.
O Espírito é, pois, apresentado como Aquele que alimenta e que
dá vida ao “corpo de Cristo”; dessa forma, Ele fomenta a coesão, dinamiza a
fraternidade e é o responsável pela unidade desses diversos membros que formam
a comunidade.
ATUALIZAÇÃO
Para refletir e atualizar a Palavra, considerar os seguintes
elementos:
• Temos todos consciência de que somos membros de um único
“corpo” – o corpo de Cristo – e é o mesmo Espírito que nos alimenta, embora
desempenhemos funções diversas (não mais dignas ou mais importantes, mas
diversas). No entanto, encontramos, com alguma frequência, cristãos com uma
consciência viva da sua superioridade e da sua situação “à parte” na comunidade
(seja em razão da função que desempenham, seja em razão das suas “qualidades”
humanas), que gostam de mandar e de fazer-se notar. Às vezes, veem-se atitudes
de prepotência e de autoritarismo por parte daqueles que se consideram
depositários de dons especiais; às vezes, a Igreja continua a dar a impressão –
mesmo após o Vaticano II – de ser uma pirâmide no topo da qual há uma elite que
preside e toma as decisões e em cuja base está o rebanho silencioso, cuja
função é obedecer. Isto faz algum sentido, à luz da doutrina que Paulo expõe?
• Os “dons” que recebemos não podem gerar conflitos e divisões,
mas devem servir para o bem comum e para reforçar a vivência comunitária. As
nossas comunidades são espaços de partilha fraterna, ou são campos de batalha
onde se digladiam interesses próprios, atitudes egoístas, tentativas de
afirmação pessoal?
• É preciso ter consciência da presença do Espírito: é Ele que
alimenta, que dá vida, que anima, que distribui os dons conforme as
necessidades; é Ele que conduz as comunidades na sua marcha pela história. Ele
foi distribuído a todos os crentes e reside na totalidade da comunidade. Temos
consciência da presença do Espírito e procuramos ouvir a sua voz e perceber as
suas indicações? Temos consciência de que, pelo facto de desempenharmos esta ou
aquela função, não somos as únicas vozes autorizadas a falar em nome do
Espírito?
SEQUÊNCIA DO PENTECOSTES
Espirito de Deus, enviai dos céus um raio de luz,
um raio de luz. Vinde, Pai
dos Pobres, dai aos corações vossos sete dons, vossos sete dons.
Consolo que acalma,
hóspede da alma, doce alivio, vinde, doce alivio, vinde! No labor, descanso, na
aflição, remanso, no calor, aragem, no calor, aragem.
Ao sujo, lavai. Ao seco,
regai, curai o doente,
curai o doente. Dobrai o
que é duro, guiai no escuro, o frio aquecei, o frio aquecei.
Enchei, luz bendita, chama
que crepita, o íntimo de nós, o íntimo de nós. Sem a luz que acode, nada o
homem pode, nenhum bem há nele nenhum bem há nele.
Dai a vossa igreja, que
espera e deseja, vossos sete dons, vossos sete dons. Dai, em prêmio ao forte,
uma santa morte, alegria eterna, alegria eterna.
Amém! Amém!
Evangelho (Jo 20.19-23)
Proclamação do Evangelho de Jesus
Cristo segundo João: 19Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da
semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os
discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: “A
paz esteja convosco”. 20Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos
e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor. 21Novamente,
Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos
envio”. 22E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse:
“Recebei o Espírito Santo. 23A quem perdoardes os pecados, eles lhes
serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos”. — Palavra
da Salvação. — Glória a vós, Senhor.
AMBIENTE
Este texto (lido já no segundo domingo da Páscoa) situa-nos no
cenáculo, no próprio dia da ressurreição. Apresenta-nos a comunidade da nova
aliança, nascida da ação criadora e vivificadora do Messias. No entanto, esta
comunidade ainda não se encontrou com Cristo ressuscitado e ainda não tomou
consciência das implicações da ressurreição. É uma comunidade fechada,
insegura, com medo… Necessita de fazer a experiência do Espírito; só depois,
estará preparada para assumir a sua missão no mundo e dar testemunho do projeto
libertador de Jesus.
Nos “Atos”, Lucas narra a descida do Espírito sobre os
discípulos no dia do Pentecostes, cinquenta dias após a Páscoa (sem dúvida por
razões teológicas e para fazer coincidir a descida do Espírito com a festa
judaica do Pentecostes, a festa do dom da Lei e da constituição do Povo de
Deus); mas João situa no anoitecer do dia de Páscoa a recepção do Espírito
pelos discípulos.
MENSAGEM
João começa por pôr em relevo a situação da comunidade. O
“anoitecer”, as “portas fechadas”, o “medo” (vers. 19 a), são o quadro que
reproduz a situação de uma comunidade desamparada no meio de um ambiente hostil
e, portanto, desorientada e insegura. É uma comunidade que perdeu as suas
referências e a sua identidade e que não sabe, agora, a que se agarrar.
Entretanto, Jesus aparece “no meio deles” (vers. 19b). João indica desta forma
que os discípulos, fazendo a experiência do encontro com Jesus ressuscitado,
redescobriram o seu centro, o seu ponto de referência, a coordenada fundamental
à volta do qual a comunidade se constrói e toma consciência da sua identidade.
A comunidade cristã só existe de forma consistente se está centrada em Jesus
ressuscitado.
Jesus começa por saudá-los, desejando-lhes “a paz” (“shalom”, em
hebraico). A “paz” é um dom messiânico; mas, neste contexto, significa,
sobretudo, a transmissão da serenidade, da tranquilidade, da confiança que
permitirão aos discípulos superar o medo e a insegurança: a partir de agora,
nem o sofrimento, nem a morte, nem a hostilidade do mundo poderão derrotar os
discípulos, porque Jesus ressuscitado está “no meio deles”.
Em seguida, Jesus “mostrou-lhes as mãos e o lado”. São os
“sinais” que evocam a entrega de Jesus, o amor total expresso na cruz. É nesses
“sinais” (na entrega da vida, no amor oferecido até à última gota de sangue)
que os discípulos reconhecem Jesus. O facto de esses “sinais” permanecerem no
ressuscitado, indica que Jesus será, de forma permanente, o Messias cujo amor
se derramará sobre os discípulos e cuja entrega alimentará a comunidade.
Vem, depois, a comunicação do Espírito. O gesto de Jesus de soprar sobre os
discípulos reproduz o gesto de Deus ao comunicar a vida ao homem de argila
(João utiliza, aqui, precisamente o mesmo verbo do texto grego de Gn 2,7). Com
o “sopro” de Deus de Gn 2,7, o homem tornou-se um “ser vivente”; com este
“sopro”, Jesus transmite aos discípulos a vida nova e faz nascer o Homem Novo.
Agora, os discípulos possuem a vida em plenitude e estão capacitados – como
Jesus – para fazerem da sua vida um dom de amor aos homens. Animados pelo
Espírito, eles formam a comunidade da nova aliança e são chamados a testemunhar
– com gestos e com palavras – o amor de Jesus.
Finalmente, Jesus explicita qual a missão dos discípulos (ver. 23): a
eliminação do pecado. As palavras de Jesus não significam que os discípulos
possam ou não – conforme os seus interesses ou a sua disposição – perdoar os
pecados. Significam, apenas, que os discípulos são chamados a testemunhar no
mundo essa vida que o Pai quer oferecer a todos os homens. Quem aceitar essa
proposta será integrado na comunidade de Jesus; quem não a aceitar, continuará
a percorrer caminhos de egoísmo e de morte (isto é, de pecado). A comunidade,
animada pelo Espírito, será a mediadora desta oferta de salvação.
ATUALIZAÇÃO
Para a reflexão, considerar as seguintes coordenadas:
• A comunidade cristã só existe de forma consistente, se está
centrada em Jesus. Jesus é a sua identidade e a sua razão de ser. É n’Ele que
superamos os nossos medos, as nossas incertezas, as nossas limitações, para
partirmos à aventura de testemunhar a vida nova do Homem Novo. As nossas
comunidades são, antes de mais, comunidades que se organizam e estruturam à
volta de Jesus? Jesus é o nosso modelo de referência? É com Ele que nos
identificamos, ou é num qualquer ídolo de pés de barro que procuramos a nossa
identidade? Se Ele é o centro, a referência fundamental, têm algum sentido as
discussões acerca de coisas não essenciais, que às vezes dividem os crentes?
• Identificar-se como cristão significa dar testemunho diante do
mundo dos “sinais” que definem Jesus: a vida dada, o amor partilhado. É esse o
testemunho que damos? Os homens do nosso tempo, olhando para cada cristão ou
para cada comunidade cristã, podem dizer que encontram e reconhecem os “sinais”
do amor de Jesus?
• As comunidades construídas à volta de Jesus são animadas pelo
Espírito. O Espírito é esse sopro de vida que transforma o barro inerte numa
imagem de Deus, que transforma o egoísmo em amor partilhado, que transforma o
orgulho em serviço simples e humilde… É Ele que nos faz vencer os medos,
superar as cobardias e fracassos, derrotar o cepticismo e a desilusão,
reencontrar a orientação, readquirir a audácia profética, testemunhar o amor,
sonhar com um mundo novo. É preciso ter consciência da presença contínua do
Espírito em nós e nas nossas comunidades e estar atentos aos seus apelos, às
suas indicações, aos seus questionamentos.
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O DOMINGO DO PENTECOSTES
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)
1. A LITURGIA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao Domingo do Pentecostes,
procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma
leitura em cada dia, por exemplo…. Escolher um dia da semana para a meditação
comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo
de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa…
2. EVIDENCIAR OS CARISMAS.
O Pentecostes é a festa do nascimento da Igreja. Seria, pois,
importante fazer uma liturgia em que aos variados carismas pudessem aparecer.
Seria necessário pensar em fazer-se apelo aos talentos de leitores, de
salmista, de músico, de diretor do canto, de decorador, etc…. Importa que a
assembleia apareça como una e diversa.
3. NÃO OMITIR A SEQUÊNCIA.
Não omitir a sequência de Pentecostes depois da segunda leitura
e antes da aclamação ao Evangelho. Pode ser lida por duas pessoas (com um fundo
musical) ou, melhor ainda, cantada.
4. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar
o acolhimento das leituras com a oração.
No final da primeira leitura:
Bendito sejas, Deus de luz e de vida, sopro criador e fogo de
amor. Nós Te louvamos pelo dom do teu Espírito, que chama todos os povos da
terra a proclamar, cada um na sua língua, as maravilhas da tua bondade.
Nós Te pedimos por todos os membros do teu Povo: torna-nos receptivos às
múltiplas linguagens dos nossos irmãos e confiantes no teu espírito de unidade.
No final da segunda leitura:
Nós Te bendizemos, Pai, pelo novo corpo do teu Filho, que é a
Igreja, e nós Te damos graças por nos teres permitido ser os seus membros, cada
um na sua parte e na diversidade das funções confiadas.
Nós Te pedimos, Espírito Santo, Tu que ages em nós para o bem de
todos: nós acolhemos o teu sopro; manifesta em nós a tua presença.
No final do Evangelho:
Nós Te damos graças, Pai, pela maravilha realizada por Jesus
ressuscitado, porque Ele deu nova força aos seus apóstolos, tirando-os do medo
e da paralisia, comunicando-lhes o sopro da sua ressurreição.
Nós Te suplicamos: que a tua Paz esteja conosco, por Jesus,
vencedor de todas as formas de morte, e pelo teu Espírito, que é perdão e
santificação.
5. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a Oração Eucarística III, que contém uma oração
própria para o Pentecostes e que evoca o Espírito…
6. PALAVRA PARA O CAMINHO.
Tempestade! Fogo! Portas arrombadas! O Pentecostes é a irrupção
do Espírito Santo na vida dos discípulos que vão deixar-se transformar em todas
as dimensões do seu ser. O Pentecostes continua! Mas não estamos muitas vezes,
face a este Espírito Santo, como diante de uma ameaça nuclear? Ousamos, enfim,
deixar-nos irradiar por Ele sem qualquer proteção?
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
Proposta para
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES
DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
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Luis Filipe Dias |