Neste terceiro domingo da quaresma somos
convidados a refletir como estamos praticando a nossa religião. Será que
estamos usando a religião para obter alguma vantagem? Será que estamos
comercializando a salvação? São muitas perguntas, e muitas delas são de
respostas difíceis, ou muitas vezes preferimos não responder, mas, uma coisa
temos que ter em mente, que precisamos fundamentar a nossa fé nos verdadeiros valores cristãos, e não podemos ser uma pessoa dentro e outra fora da igreja, Deus nos
quer por inteiro.
A primeira leitura nos apresenta os
mandamentos da lei de Deus recebida por Moisés no Monte Sinai, “Naqueles dias, Deus pronunciou todas estas
palavras: Eu sou o Senhor teu Deus que te tirou do Egito, da casa da
escravidão. Não terás outros deuses além de mim. Não pronunciarás o nome do
Senhor teu Deus em vão, porque o Senhor não deixará sem castigo quem pronunciar
seu nome em vão. Lembra-te de santificar o dia de sábado. Honra teu pai e tua
mãe, para que vivas longos anos na terra que o Senhor teu Deus te dará. Não
matarás. Não cometerás adultério. Não furtarás. Não levantarás falso testemunho
contra o teu próximo. Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a
mulher do teu próximo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu boi, nem seu
jumento, nem coisa alguma que lhe pertença.”(Êx 20,1-3.7-8.12-17.) O povo recém
liberto da escravidão do Egito precisava de orientações de como conviver em
sociedade sem a mão opressora do faraó, bastaria somente tudo o que viveram juntos
no Egito e a forma como foram libertos, para que convivessem de forma harmônica,
mas, a realidade da natureza humana desafia o nosso entendimento, os mandamentos
recebidos no Monte Sinai nos dizem exclusivamente que o amor para com Deus
passa pelo caminho do amor ao próximo e que devemos ser cuidadosos para que a
ambição e cobiça nos faça pessoas opressoras e mesquinhas, isso a palavra de
Deus vem nos dizer também nos dias atuais, este tema está cada vez mais atual.
Na segunda leitura vemos como o Deus se
manifesta por meio de Jesus, e esta manifestação vai além do nosso entendimento
humano limitado, “Irmãos: Os judeus pedem
sinais milagrosos, os gregos procuram sabedoria; nós, porém, pregamos Cristo
crucificado, escândalo para os judeus e insensatez para os pagãos. Mas, para os
que são chamados, tanto judeus como gregos, esse Cristo é poder de Deus e
sabedoria de Deus. Pois o que é dito insensatez de Deus é mais sábio do que os
homens, e o que é dito fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.”(1Cor
1,22-25.) E nós, como estamos esperando a manifestação de Jesus em nossa vida?
A entrega de Jesus na cruz pode parecer algo sem sentido para muitos. Como alguém
revestido de tanto poder pode chegar a este ponto, ser crucificado junto com os
bandidos e sendo confundido como um deles? Somente um gesto de grande amor e
entrega total para explicar tudo isso, hoje isto é o que nos fortalece em
nossas lutas e nos impulsiona para assumir a missão que Jesus nos confiou.
No evangelho, mais uma vez vemos Jesus no
templo, “Estava próxima a Páscoa dos
judeus e Jesus subiu a Jerusalém. No Templo, encontrou os vendedores de bois,
ovelhas e pombas e os cambistas que estavam aí sentados. Fez então um chicote de
cordas e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as
moedas e derrubou as mesas dos cambistas. E disse aos que vendiam pombas: Tirai
isso daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio! Seus discípulos
lembraram-se, mais tarde, que a Escritura diz: O zelo por tua casa me
consumirá.”(Jo 2,13-17.) Naquele tempo era comum comercializar animais para
que fossem oferecidos em holocausto no templo, mas, estas atividades foram dominando
o espaço que era destinado a receber as orações e as suplicas do povo, vemos
que hoje as igrejas muitas vezes assemelham-se com aquele templo, vemos muito comércio
dentro das igrejas, sejam católicas ou protestantes, vendem-se CD’s, livros,
camisas, etc, estes itens podem ajudar o caminho de fé do povo, mas, existem
coisas absurdas que são comercializadas dentro dos templos, não podemos
permitir que a palavra de Deus se torne a atividade secundária de nossas
igrejas. Será que precisaremos novamente do chicote de Jesus?
Jesus deve ser o centro da nossa fé, todas
as outras coisas devem servir para ajudar a entender e a viver esta fé, “Então os judeus perguntaram a Jesus: Que
sinal nos mostras para agir assim? Ele respondeu: Destruí este Templo, e em
três dias eu o levantarei. Os judeus disseram: Quarenta e seis anos foram
precisos para a construção deste santuário e tu o levantarás em três dias? Mas
Jesus estava falando do Templo do seu corpo. Quando Jesus ressuscitou, os
discípulos lembraram-se do que ele tinha dito e acreditaram na Escritura e na
palavra dele. Jesus estava em Jerusalém durante a festa da Páscoa. Vendo os
sinais que realizava, muitos creram no seu nome. Mas Jesus não lhes dava
crédito, pois ele conhecia a todos; e não precisava do testemunho de ninguém
acerca do ser humano, porque ele conhecia o homem por dentro.”(Jo 2,18-25.)
Em nossas mentes limitadas por diversas vezes temos dificuldades de entender o
que Jesus quer para nossa vida, corremos
risco de alicerçar em outras coisas a nossa fé, e no momento que estas
coisas desmoronam a nossa fé desmorona junto, Cristo é a força que nos move para
a missão, e ele nos conhece profundamente e sabe de tudo que se passa em nossos corações e em nossas mentes.
Que neste tempo de quaresma possamos
repensar a nossa vida, e mudar aquilo que precisa ser mudado, não podemos ser
cristãos de fachada, Deus nos quer por inteiro e não pela metade, mas, para
isso devemos percorrer o caminho de fé que Jesus percorreu, devemos amar o próximo
de forma verdadeira, sem esperar nada em troca, fazer o bem a quem precisa já
deve ser a nossa recompensa, devemos lutar por um mundo melhor para todos, só
que devemos ter cuidado para não sermos manipulados por pessoas que fingem
fazer o bem, mas, escondem outras intenções e devemos fazer de nossas igrejas
locais de encontros com Deus e com os irmãos, uma igreja pura e livre dos
interesses pessoais, uma igreja servidora como no lema da Campanha da
Fraternidade deste ano, penso que foi esta a igreja que Cristo entregou a São
Pedro e que as nossas fraquezas humanas transformou em tantas coisas que foi
deixando Cristo em segundo plano, hoje temos a oportunidade de mudar o rumo
desta história , isso só depende de nós, sabemos que Cristo caminha ao nosso
lado nesta missão, só precisamos acreditar nisso e iniciarmos esta
transformação.
Rubens Corrêa |
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