quarta-feira, 29 de março de 2017

O Espírito de ressurreição e vida (02/04/2017)

   Introdução geral
   Deus se revela por meio da palavra profética. Na primeira leitura, Ezequiel anuncia vida nova para os que se encontram sem esperança no “túmulo” do exílio da Babilônia. O dom do Espírito de Deus revigora o coração do povo e lhe suscita vida plena com seu regresso à terra de Israel em plena liberdade (I leitura).
   A revelação plena se realiza na pessoa de seu Filho, hoje por meio da ressurreição de Lázaro. Quem vive e crê nele jamais morrerá (Evangelho).
   Na carta aos Romanos, Paulo orienta os cristãos a uma vida nova proveniente da fé em Jesus Cristo.  É a vida no Espírito. Ele habita em cada pessoa e suscita vida aos corpos mortais (II leitura).
   Os textos deste V domingo enfatizam a vitória da vida sobre a morte como dom de Deus. O seu Espírito nos faz novas criaturas: transforma, reanima, fortalece e dá vida.

Comentários aos textos bíblicos
   I leitura (Ezequiel 37,12-14): Porei o meu Espírito em vós
   Ezequiel profetizou junto aos exilados na Babilônia ao redor do ano 580 a.C. O povo encontra-se numa crise profunda de identidade. Está longe de tudo e de todos. Deus parece ausente. Deus envia o seu profeta para falar ao seu povo que vive como se estivesse morto. Pela força de Deus eles se vão levantar das cinzas e sair dos “túmulos” de morte. Em nome de Deus, Ezequiel anuncia um novo êxodo. No primeiro êxodo, Deus libertou o seu povo da escravidão do Egito e lhe deu a terra prometida. Agora Deus também quer libertar o seu povo do exilio da Babilônia e serão reintroduzidos na terra de Israel. O povo disperso, qual ossos ressequidos espalhado no vale da morte, será reunido e terá vida de novo. Pela força de Deus, os esqueletos sairão de seus túmulos e voltarão a ter vida em si. Deus continua a amar o seu povo e lhe dará vida em liberdade plena.

   II leitura (Romanos 8,8-11): Vida nova no Espírito Santo
   A vida no Espírito Santo se contrapõe à vida segundo a carne, ou seja, aos instintos egoístas. A nossa primeira passagem da morte à vida deu-se no Batismo, pelo qual “morremos com Cristo, com Ele fomos sepultados, para vivermos uma vida nova” (Rom 6,4).

   Evangelho (Jo 11,1-45): Jesus é a ressurreição e a vida
   Na quinta semana da quaresma escutamos o Evangelho da ressurreição de Lázaro. Ele faz-nos meditar que todos nós precisamos morrer para nós mesmos, a fim de alcançar, em Cristo, a verdadeira vida.
   A narrativa da ressurreição de Lázaro corresponde ao último dos sete sinais de libertação que Jesus realiza no Evangelho de João. Os relatos dos sete sinais procuram levar os cristãos a refletir sobre o sentido profundo da vida humana. Em João os sinais revelam Jesus em ação:

(I sinal) Jesus muda a água em vinho nas boas de Caná da Galileia (2,1-12);
(II sinal) Jesus cura o filho do funcionário real (4,46-54);
(III sinal) Jesus cura o paralítico à beira da piscina de Betesda (5,1-18);
(IV sinal) A multiplicação dos pães que mata a fome do povo (6,1-15);
(V sinal) Jesus caminha sobre as águas (6,16-21);
(VI sinal) O cego de nascença (9,1-41);
(VII sinal) A ressurreição de Lázaro ( 11, 1-45).

   Todos os sinais visam apresentar Jesus como o Messias que veio para resgatar a vida plena para os seres humanos. Em cada sinal, percebe-se um propósito pedagógico: a representação de um caminho novo apontado por Jesus para derrubar todas as barreiras que impedem a pessoa de realizar-se plenamente.
   Em meio às trevas da incredulidade e da desesperança, Jesus faz brilhar o sol da esperança. A morte não detém a última palavra. Jesus é a ressurreição e a vida.
   RICA: A liturgia do quinto domingo da Quaresma reserva aos catecúmenos o terceiro escrutínio. Com o Evangelho de Lázaro, o eleito é colocado no drama da morte e ressurreição de Cristo que é caminho, verdade e vida.
   O Evangelho acentua, por cinco vezes, a relação de amizade de Jesus por Lázaro e pelas suas irmãs: “Vede como era seu amigo” (Jo 11, 36) e, ao mesmo tempo, desenvolve o diálogo orante de Jesus com o Pai: “Pai, dou-Te graças por me teres atendido” (Jo 11,41).
   Nesta semana, somos desafiados a valorizar a ORAÇÃO, como um “tratar de AMIZADE com Aquele que sabemos que nos ama” (Santa Teresa de Jesus, Livro da Vida, 8,5).
Luis Filipe Dias

domingo, 26 de março de 2017

Abra os meus olhos Senhor e sua luz brilhará sobre todos nós (26/03/2017)

   Neste domingo Jesus cura a nossa cegueira espiritual, é preciso abrir bem os olhos para ver além das aparências e encontrar no coração dos irmãos o Cristo que é luz para o mundo
   Na primeira leitura (1Sm 16,1b.6-7.10-13a) vemos Samuel ungindo o rei Davi:  “Naqueles dias, o Senhor disse a Samuel: Enche o chifre de óleo e vem para que eu te envie à casa de Jessé de Belém, pois escolhi um rei para mim entre os seus filhos. Assim que chegou, Samuel viu a Eliab e disse consigo ‘Certamente é este o ungido do Senhor!’ Mas o Senhor disse-lhe: ‘Não olhes para a sua aparência nem para a sua grande estatura, porque eu o rejeitei. Não julgo segundo os critérios do homem: o homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração’. Jessé fez vir seus sete filhos à presença de Samuel, mas Samuel disse: ‘O Senhor não escolheu a nenhum deles’. E acrescentou: ‘Estão aqui todos os teus filhos?’ Jessé respondeu: ‘Resta ainda o mais novo que está apascentando as ovelhas’. E Samuel ordenou a Jessé: ‘Manda buscá-lo, pois não nos sentaremos à mesa enquanto ele não chegar’. Jessé mandou buscá-lo. Era Davi, ruivo, de belos olhos e de formosa aparência. E o Senhor disse: ‘Levanta-te, unge-o: é este!’ Samuel tomou o chifre com óleo e ungiu a Davi na presença de seus irmãos. E a partir daquele dia o espírito do Senhor se apoderou de Davi”.
   Com a missão de ungir um rei, o profeta Samuel parte para a caso de Jessé conforme o Senhor Deus o conduzia, mas ele tinha uma visão de rei ainda muito terrena, esperava ungir um jovem alto, com muita força e vigor físico, Deus porém ver o coração e nenhum dos outros sete filhos de Jessé atendia aos requisitos que Deus tinha como necessário, Samuel questiona Jessé e manda buscar o filho mais novo, ao chegar Davi é ungido por Samuel na presença de seus irmãos. É assim que Deus faz conosco, nos escolhe segundo os seus critérios que muitas das vezes não entendemos, nos ungi para a missão que imaginamos pertencer a outros e a partir daí somos tomados por uma força que nos conduz para realizar algo que antes jugávamos impossível.
   Em sua carta aos Efésios (Ef 5,8-14) Paulo também quer nos dizer: “Irmãos: Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos da luz. E o fruto da luz chama-se: bondade, justiça, verdade. Discerni o que agrada ao Senhor. Não vos associeis às obras das trevas, que não levam a nada; antes, desmascarai-as. O que essa gente faz em segredo, tem vergonha até de dizê-lo. Mas tudo que é condenável torna-se manifesto pela luz; e tudo o que é manifesto é luz. É por isso que se diz: ‘Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e sobre ti Cristo resplandecerá’”.
   Em suas palavras Paulo nos mostra a importância de vivermos como filhos da luz, Jesus se fez luz para tirar o mundo das trevas, é essa luz que devemos deixar iluminar a nossa vida, com ela o nosso caminho se torna mais claro e seguro. Como filhos da luz não podemos deixar-nos seduzir pelas coisas deste mundo, somos chamados a abandonar todas as situações que nos leva a pecar e passamos a trilhar o caminho que Jesus percorreu, agindo com bondade, justiça e verdade, também sendo a luz da esperança para um mundo que vive nas trevas.
   No evangelho segundo João (Jo 9,1.6-9.13-17.34-38) vemos Jesus curar o cego: “Naquele tempo, ao passar, Jesus viu um homem cego de nascença. E cuspiu no chão, fez lama com a saliva e colocou-a sobre os olhos do cego. E disse-lhe: ‘Vai lavar-te na piscina de Siloé’ (que quer dizer: Enviado). O cego foi, lavou-se e voltou enxergando. Os vizinhos e os que costumavam ver o cego — pois ele era mendigo — diziam: ‘Não é aquele que ficava pedindo esmola?’ Uns diziam: ‘Sim, é ele!’ Outros afirmavam: ‘Não é ele, mas alguém parecido com ele’. Ele, porém, dizia: ‘Sou eu mesmo!’ Levaram então aos fariseus o homem que tinha sido cego. Ora, era sábado, o dia em que Jesus tinha feito lama e aberto os olhos do cego. Novamente, então, lhe perguntaram os fariseus como tinha recuperado a vista. Respondeu-lhes: ‘Colocou lama sobre os meus olhos, fui lavar-me e agora vejo!’ Disseram, então, alguns dos fariseus: ‘Esse homem não vem de Deus, pois não guarda o sábado’. Mas outros diziam: ‘Como pode um pecador fazer tais sinais?’ E havia divergência entre eles. Perguntaram outra vez ao cego: ‘E tu, que dizes daquele que te abriu os olhos?’ Respondeu: ‘É um profeta’. Os fariseus disseram-lhe: ‘Tu nasceste todo em pecado e estás nos ensinando?’ E expulsaram-no da comunidade. Jesus soube que o tinham expulsado. Encontrando-o, perguntou-lhe: ‘Acreditas no Filho do Homem?’ Respondeu ele: ‘Quem é, Senhor, para que eu creia nele?’ Jesus disse: ‘Tu o estás vendo; é aquele que está falando contigo’. Exclamou ele: ‘Eu creio, Senhor!’ E prostrou-se diante de Jesus”.
   Ao passar diante daquele cego de nascença, Jesus sentiu compaixão e fez a glória de Deus se manifestar naquele que muitos imaginavam que se encontrava naquela situação devido aos pecados de seus pais. Sentindo misericórdia, Ele cuspiu no chão, fez lama e passou nos olhos do cego, mandou se lavar na piscina de Siloé, eis que seus olhos se abriram para este mundo e para a glória de Deus, ao mesmo tempo os fariseus fecharam os olhos para não ver a graça de Deus. Muitas vezes agimos como os fariseus diante da graça alcançada por outro, nos julgamos acima do bem e do mal, colocamos em dúvidas se a pessoa é merecedora de tal graça em sua vida, o pior cego é aquele que não quer ver.
   Para aquele cego Jesus devolveu a visão física e em seu coração ele já enxergava com os olhos da fé, viu em Jesus um ungido de Deus, só alguém que tinha vindo do próprio Deus para realizar tão poderoso milagre. Ao ser questionado e ameaçado de expulsão e processou a sua fé naquele que fez a luz brilhar diante dos seus olhos, tinha certeza da santidade de Jesus enquanto aqueles homens tão mais instruídos preferiram viver de baixo da lei abandonado completamente a graça de Deus.
   Neste quarto domingo da quaresma que vemos se aproximar o momento da paixão, morte e ressurreição de Jesus, somos chamados a abrir os olhos, é preciso mudar o rumo da nossa vida, passar a enxergar o mundo com os olhos da fé em Jesus Cristo da luz do mundo, sendo verdadeiros discípulos e testemunhas dEle, abandonar tudo que fere e mata o homem e a criação de Deus, somos responsáveis em cuidar de tudo o que o nosso Pai do céu criou e nos confiou a sua administração.
   Nesta campanha da fraternidade nossa igreja quer nos alertar sobre os cuidados para preservar a vida em nosso planeta, cuidar dos biomas é preservar a vidas da própria espécie humana,  a ambição por um lucro rápido e fácil está fazendo crescer a cada dia o desmatamento, a poluição e a extinção de várias espécies da fauna e flora brasileira e do mundo, já podemos sentir as consequências, a elevação da temperatura, os longos períodos de estiagem, várias doenças provocadas pela excessiva poluição, estamos no caminho da própria extinção, precisamos fazer o caminho de volta e assumir a responsabilidade que Deus nos confiou, cuidar de toda a criação, reflorestar, despoluir e planejar adequadamente toda ocupação do espaço neste planeta, neste dia Jesus nos chama a abrir bem os olhos enquanto ainda podemos salvar este planeta. Pensamos nisso e mão a obra. 
Rubens Corrêa

domingo, 19 de março de 2017

“Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede” (19/03/2017)

   Neste terceiro domingo da Quaresma somos convidados a ter uma experiência profunda e especial com Jesus, Ele é água viva que brota do Pai para saciar o mundo sedento de amor, justiça e paz, por isso te pedimos: “Senhor dá-me de beber desta água viva”.
   No livro do Êxodo (Êx 17,3-7.) Moisés vem nos dizer: “Naqueles dias, o povo, sedento de água, murmurava contra Moisés e dizia: ‘Por que nos fizeste sair do Egito? Foi para nos fazer morrer de sede, a nós, nossos filhos e nosso gado?’ Moisés clamou ao Senhor, dizendo: ‘Que farei por este povo? Por pouco não me apedrejam!’ O Senhor disse a Moisés: ‘Passa adiante do povo e leva contigo alguns anciãos de Israel. Toma a tua vara com que feriste o rio Nilo e vai. Eu estarei lá, diante de ti, sobre o rochedo, no monte Horeb. Ferirás a pedra e dela sairá água para o povo beber’. Moisés assim fez na presença dos anciãos de Israel. E deu àquele lugar o nome de Massa e Meriba, por causa da disputa dos filhos de Israel e porque tentaram o Senhor, dizendo: ‘O Senhor está no meio de nós ou não?’”
   Caminhando pelo deserto o povo sofre com a falta de água e tão rapidamente se esquece de tudo o que o Senhor Deus fez para libertá-lo da escravidão do Egito, Moisés intercede a Deus em favor daquele povo e o Senhor se compadece deste sofrimento fazendo brotar água de rochedo no monte Horeb. Quantas vezes as dificuldades de nossa vida nos fazem questionar Deus? Precisamos compreender que todas as vezes que vacilamos no caminho do Senhor sentimos uma sede inesgotável do amor de Deus e eis que Ele vem nos saciar.
   Falando aos Romanos (Rm 5,1-2.5-8.) Paulo também quer nos falar: “Irmãos: Justificados pela fé, estamos em paz com Deus, pela mediação do Senhor nosso, Jesus Cristo. Por ele tivemos acesso, pela fé, a esta graça, na qual estamos firmes e nos gloriamos, na esperança da glória de Deus. E a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Com efeito, quando éramos ainda fracos, Cristo morreu pelos ímpios, no tempo marcado. Dificilmente alguém morrerá por um justo; por uma pessoa muito boa, talvez alguém se anime a morrer. Pois bem, a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores”.
   Quando ainda estávamos mergulhados no pecado Jesus se entregou por nós. Como explicar este amor tão grandioso de quem entrega a sua própria vida para resgatar aqueles não tinham nenhum valor aos olhos do mundo? Jesus nos abriu um canal da graça de Deus e das suas chagas na cruz jorra água viva que vem nos lavar do pecado e saciar a nossa sede, Ele nos devolveu a fé e a esperança para que sejamos as suas testemunhas para este mundo que vive perdido mergulhados na lama do pecado, das drogas, da prostituição e da corrupção, Deus nos chama para uma entrega daquilo que temos de melhor em nós, somos chamados a missão de construir o Reino de Deus já aqui na terra.   
   O evangelista João (Jo 4,5-12.) nos relata o encontro de Jesus com a Mulher samaritana: “Naquele tempo, Jesus chegou a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto do terreno que Jacó tinha dado ao seu filho José. Era aí que ficava o poço de Jacó. Cansado da viagem, Jesus sentou-se junto ao poço. Era por volta de meio-dia. Chegou uma mulher de Samaria para tirar água. Jesus lhe disse: ‘Dá-me de beber’. Os discípulos tinham ido à cidade para comprar alimentos. A mulher samaritana disse então a Jesus: ‘Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim, que sou uma mulher samaritana?’ De fato, os judeus não se dão com os samaritanos. Respondeu-lhe Jesus: ‘Se tu conhecesses o dom de Deus e quem é que te pede: ‘Dá-me de beber’, tu mesma lhe pedirias a ele, e ele te daria água viva’. A mulher disse a Jesus: ‘Senhor, nem sequer tens balde e o poço é fundo. De onde vais tirar água viva? Por acaso, és maior que nosso pai Jacó, que nos deu o poço e que dele bebeu, como também seus filhos e seus animais?’”
   A beira daquele poço Jesus coloca de lado as diferenças entre judeus e samaritanos para mostrar que o reino de Deus é para todos que verdadeiramente aceita-lo em seu coração, questionado pela mulher Jesus lhe diz que se o conhecesse  ela é que deveria pedir “Dá-me de beber” e ela ainda com o pensamento neste mundo questiona como iria tirar se nem balde ele tinha, é assim que muitas vezes nos encontramos, vemos a graça de Deus e por estar com a cabeça nas coisas deste mundo não compreendemos o que Jesus tem a nos oferecer.
   Com muita sabedoria Jesus sacia a sede de saber daquela mulher (Jo 4,13-15.19b-26.39a.40-42.) “Respondeu Jesus: ‘Todo aquele que bebe desta água terá sede de novo. Mas quem beber da água que eu lhe darei, esse nunca mais terá sede. E a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água que jorra para a vida eterna’. A mulher disse a Jesus: ‘Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede e nem tenha de vir aqui para tirá-la’. ‘Senhor, vejo que és um profeta!’ Os nossos pais adoraram neste monte, mas vós dizeis que em Jerusalém é que se deve adorar’. Disse-lhe Jesus: ‘Acredita-me, mulher: está chegando a hora em que nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis. Nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus. Mas está chegando a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade. De fato, estes são os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade’. A mulher disse a Jesus: ‘Sei que o Messias (que se chama Cristo) vai chegar. Quando ele vier, vai nos fazer conhecer todas as coisas’. Disse-lhe Jesus: ‘Sou eu, que estou falando contigo’. Muitos samaritanos daquela cidade abraçaram a fé em Jesus. Por isso, os samaritanos vieram ao encontro de Jesus e pediram que permanecesse com eles. Jesus permaneceu aí dois dias. E muitos outros creram por causa da sua palavra. E disseram à mulher: ‘Já não cremos por causa das tuas palavras, pois nós mesmos ouvimos e sabemos que este é verdadeiramente o salvador do mundo’”.
   Aquele poço em Sicar representava muito para os samaritanos, escavado por Jacó, sacio a sede de seus filhos, animais e muitos anos depois ainda saciava a sede daquele povo, mas eles sempre precisavam voltar para buscar mais água. No diálogo com a samaritana Jesus se apresenta como a água viva, quem dele beber jamais terá sede, ela sentiu-se atraída pelas palavras de Jesus e testemunhou para todo o povo, Cristo permaneceu com eles por dois dias e muitos acreditaram nele abraçando a fé no verdadeiro Salvador.
   Para Jesus não existe fronteiras para anunciar o amor de Deus, Ele leva a sua palavra a todos independentemente da sua etnia, gênero e posição social, olhando para mulher samaritana, Ele não olhou para a inferioridade que aquela sociedade atribuía para a mulher e não se importou com as diferenças entre judeus e samaritanos, Cristo somente visualizou a oportunidade de revelar o Reino de Deus para todo aquele povo e se entregou como água viva a um povo sedento de Deus. Também nós somos chamados a colocar as nossas diferenças de lado para resgatar o irmão e a irmã que vive longe da presença de Deus, mas devemos fazer como Jesus, com muito respeito e amor, sendo canal de graça para aquele que vive sem paz e sem esperança.
   Nas leituras deste domingo vemos a importância da água para os povos daquela árida região onde vivia Jesus, vivemos em um país onde se encontra estes recursos em abundância, mas vemos que os desmatamentos e desenvolvimento econômico a qualquer custo estão causando um grande desequilibro na natureza, penamos por longos períodos sem chuvas e em outros momentos padecemos com chuvas em volumes nunca visto que causam tragédias em grandes escalas. A Campanha da Fraternidade deste ano vem nos alertar da importância de cuidar dos biomas que Deus nos confiou, é preciso preservar as biodiversidades, plantas e animais de todas as espécies para que tenhamos um planeta com todas as condições para que o homem possa viver em plenitude, cuidar da natureza é dever de todo o cristão.
   Que neste domingo possamos mergulhar nesta fonte de água viva que é Jesus, Dele beberemos para saciar a nossa sede de amor, justiça e paz, mas também devemos dar de beber desta fonte aos nossos irmãos que estão sedentos de Deus, que sejamos como aquela mulher samaritana que ao encontrar Jesus se abriu para que a graça que nEle havia e foi canal desta graça para aquele povo, que Nossa Senhora modelo de virtude nos ajude nesta missão.
Rubens Corrêa

sábado, 11 de março de 2017

“E foi transfigurado diante deles” (12/03/2017)

   Hoje, a caminho da Semana Santa, a liturgia da Palavra mostra-nos a Transfiguração de Jesus Cristo.
   A Transfiguração é a imagem da nossa redenção, onde a carne do Senhor se apresenta no esplendor da ressurreição.
Na primeira Leitura do livro do Genesis (Gn 12,1-4a) observamos que A historia de Abraão está ligada a historia de toda a humanidade, com ele começa a surgir um povo que tem a missão de levar a benção de Deus para todos na terra. Esse povo é portador do projeto de Deus que deve ser seguido por todos. O inicio do projeto está na fé. Abraão atende ao chamado sem pestanejar.
1Naqueles dias, o Senhor disse a Abrão: ‘Sai da tua terra, da tua família e da casa do teu pai, e vai para a terra que eu te vou mostrar. 2Farei de ti um grande povo e te abençoarei; engrandecerei o teu nome, de modo que ele se torne uma bênção. 3Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão abençoadas todas as famílias da terra!’. 4aE Abrão partiu, como o Senhor lhe havia dito”.

O salmo É um hino de louvor a Deus que conduz o povo para a vida.
Responsório (Sl 32) — Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça,/ venha a vossa salvação!

— Pois reta é a palavra do Senhor,/ e tudo o que ele faz merece fé./ Deus ama o direito e a justiça,/ transborda em toda a terra a sua graça.
— Mas o Senhor pousa o olhar sobre os que o temem,/ e que confiam esperando em seu amor,/ para da morte libertar as suas vidas/ e alimentá-los quando é tempo de penúria.
— No Senhor nós esperamos confiantes,/ porque ele é nosso auxílio e proteção!/ Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça,/ da mesma forma que em vós nós esperamos!

Na Carta de São Paulo a Timóteo (2Tm 1,8b-10) veremos que a vocação cristã é dom gratuito de participar do projeto de Deus, projeto e salvação.
“Caríssimo: 8bSofre comigo pelo Evangelho, fortificado pelo poder de Deus. 9Deus nos salvou e nos chamou com uma vocação santa, não devido às nossas obras, mas em virtude do seu desígnio e da sua graça, que nos foi dada em Cristo Jesus, desde toda a eternidade. 10Esta graça foi revelada agora, pela manifestação de nosso Salvador, Jesus Cristo. Ele não só destruiu a morte, como também fez brilhar a vida e a imortalidade por meio do Evangelho”.
No Evangelho (Mt 17,1-9) O Pai ensina que agora, quem fala é Jesus, o Filho Amado. Por isso, “escutai-O!”
“Naquele tempo, 1Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. 2E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz. 3Nisto apareceram-lhe Moisés e Elias, conversando com Jesus. 4Então Pedro tomou a palavra e disse: ‘Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias’. 5Pedro ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra. E da nuvem uma voz dizia: ‘Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o!’ 6Quando ouviram isto, os discípulos ficaram muito assustados e caíram com o rosto em terra. 7Jesus se aproximou, tocou neles e disse: “Levantai-vos e não tenhais medo”. 8Os discípulos ergueram os olhos e não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus. 9Quando desciam da montanha, Jesus ordenou-lhes: ‘Não conteis a ninguém esta visão até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos’”. 
  Jesus aparece em sua condição de ressuscitado: brilhante. Está em Deus. Estavam na presença de Deus, com Moisés e Elias.
   Mas o que esse fato refletido no evangelho pelas comunidades de Mateus, tem a ver com a realidade das nossas comunidades cristãs? Sabemos que Jesus é Nosso Deus e Senhor, mas quais as consequências que esta Fé traz em nossa vida?
   Moisés e Elias são uma referência importante para todos nós, não como meros personagens históricos, mas como homens que fizeram a experiência de Deus. O profeta Elias anuncia a Palavra Libertadora, o homem nasceu para ser livre, mas a sua liberdade está em Deus, que não permanece impassível diante do sistema opressor que não considera o dom da Liberdade, por isso, a Palavra libertadora se faz ação em Moisés Deus vê, ouve, desce e liberta o seu povo. Jesus eleva essa liberdade á sua plenitude, concretizando as promessas de Deus nesse sentido.
   O entusiasmo de pertencer a uma comunidade cristã, o privilégio de poder fazer essa experiência com os irmãos e irmãs nas celebrações dominicais, pode nos levar a cometer o mesmo erro de Pedro e querer fazer tendas, tendas do nosso comodismo, de uma Fé desvinculada da Vida isolando-se na comunidade ou no seu grupo ou pastoral, achando que a vivência cristã se resume apenas nessa experiência religiosa.
   Quando contemplamos a Divindade de Jesus e ficamos só nisso, sentimos medo, porque é impossível compreender um Deus revestido de glória, encarnado em nossa miséria humana. Mas Jesus, que tocou nos discípulos, toca também em cada membro da comunidade: “Levantai-vos, não tenhais medo”. E ao descer da montanha, só vêem Jesus caminhando com eles pela encosta da montanha. Eis aqui o grande desafio, vermos Jesus no irmão ou irmã da comunidade, que caminha com a gente, perceber esse Deus extremamente humano, percorrendo nossos mesmos caminhos.
   E assim, pela sua encarnação recebemos a Graça Divina, e podemos nos abrir para que o Espírito Santo nos renove, nos transforme e nos transfigure no dinâmico processo da conversão, e diferente dos apóstolos Pedro, Tiago e João, ao término da celebração, quando descemos da “montanha”, somos enviados para proclamar bem alto as maravilhas de Deus, a darmos testemunho do evangelho, mostrando que somente na Ressurreição do Senhor encontramos o sentido para a nossa vida terrena.
   Nesse segundo domingo da quaresma, entenderemos que o projeto de Deus passa pela experiência humana para nos conduzir a uma vida em comunhão definitiva com o PAI.
Carla Matos

sábado, 4 de março de 2017

Não só de pão vive o homem: alimentados pela Palavra de Deus (05/03/2017)

Introdução
Iniciamos o período da Quaresma com a disposição renovada de mergulhar em Deus, deixando-nos iluminar por sua Palavra, questionando-nos sobre nossas atitudes e comprometendo-nos com uma nova vida. Alimentados pela Palavra, que se torna o pão de cada dia desta Quaresma, seremos fieis ao projeto de Deus que nos criou por amor e para amar.

I leitura (Genesis 2,7-9;3,1-7); Da argila da terra Deus criou o ser humano
O próprio nome de Adão vem da palavra adamah, termo hebraico que designa a terra. É a palavra que deu origem ao homem, entendido aqui como nome genérico da raça humana.
A narrativa busca explicar o motivo do sofrimento pessoal e dos males sociais.


II leitura (Romanos 5,12-19): O novo ser humano em Jesus Cristo
Um dos temas dominantes na carta aos Romanos é a justificação pela graça. Se o pecado de Adão trouxe a morte, a fidelidade de Jesus Cristo trouxe a vida definitiva. Se a rebeldia do ser humano diante do Criador trouxe a condenação para todos, o dom gratuito de Jesus Cristo para todos trouxe a justificação.
O ato de expiação de Jesus, o novo Adão, anulou definitivamente o poder do pecado.

Evangelho (Mateus 4,1-11): Jesus vence as tentações
a)    A primeira tentação indica a dimensão econômica do poder.
Jesus, como ser humano, sentiu-se certamente atraído pela proposta de orientar a sua vida para o acúmulo de bens e para o desfrute dos prazeres que eles podem oferecer.
Ao responder que a pessoa vive não só de pão, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus, aponta para a perspectiva essencial que deve conduzir todos os nossos passos. A palavra de Deus constitui a fonte e a autoridade das quais emana todo o ensinamento capaz de realizar as aspirações mais profundas de cada um de nós; é alimento capaz de satisfazer a fome do coração humano, desejoso de inteireza e autenticidade.

b)   A segunda tentação refere-se à dimensão religiosa do poder.
O “pináculo”, para além da parte física mais alta do templo, representava os elevados cargos que um judeu poderia galgar na hierarquia religiosa.
A resposta de Jesus de não tentar o Senhor Deus informa-nos de que a lógica humana deve submeter-se à lógica divina, e não o contrário. A vontade do Pai, de forma desconcertante, manifesta-se no caminho da obediência de seu Filho até à morte de cruz. Com isso, cai por terra a presunção de querer usar Deus para a vanglória humana.

c)    A terceira tentação indica a dimensão politica do poder.
Equivale à tentação da idolatria por excelência: adoração a satanás. É posicionar-se como um ser divino, com o poder de agir, de forma absoluta, sobre pessoas e bens. É a tentação de querer alcançar a felicidade suprema pela autoafirmação e pelo domínio sobre os outros.
O posicionamento de Jesus, ao rejeitar essa tentação, transforma-se no caminho de superação de todo o domínio e também de todo o servilismo. Coloca a Deus como o único Ser digno de adoração. Jesus propõe uma nova ordem social como realização da vontade do Pai e orienta toda a sua missão para a organização dessa nova ordem. Revela, assim, a verdadeira origem do reino de justiça, fraternidade e paz: é dom de Deus e serviço abnegado dos seus filhos e filhas.

Conclusão
As tentações de Jesus resumem as tentações de todo o homem. Ao contrário de Adão, Jesus rejeita a tentação, fixando-Se no Pai e na sua palavra. Resistir ao mal, morrer para o pecado, firmando-se na palavra de Deus, é o primeiro passo para participar na Páscoa de Jesus. Quem deseja caminhar para a comunhão com Deus na Páscoa de Jesus, não pode deixar-se encantar, nesse caminho, com as tentações que o Inimigo lhe apresentará. 

Pistas de reflexão
1.    Deus é criador e libertador.
2.    Não cair em tentação.
3.    Ser portadores da graça divina.


Leitura recomendada: Roteiros homiléticos in vida pastoral, março-abril de 2017 – numero 314, p. 33-36.
Luis Filipe Dias

quarta-feira, 1 de março de 2017

Quarta-feira de Cinzas, Jesus nos convida a conversão (01/03/2017)

   Sentimos neste dia um forte chamado a conversão, Jesus nos mostra que é preciso verdadeiramente abrir o nosso coração e examinar criteriosamente as nossas ações, identificando todas as atitudes que ofenda aos princípios para que fomos criados e ao criador, Deus se entristece com o pecado dos seus filhos. A Quarta-feira de Cinzas vem abrir a porta do período quaresmal e é neste tempo o momento de junto com Jesus caminharmos para o deserto do nosso ser e junto dEle voltarmos convertidos e revigorados, prontos para a missão.
   Na primeira leitura (Jl 2,12-18.) o profeta Joel nos revela: “‘Agora, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo’. Quem sabe, se ele se volta para vós e vos perdoa, e deixa atrás de si a bênção, oblação e libação para o Senhor, vosso Deus? Tocai trombeta em Sião, prescrevei o jejum sagrado, convocai a assembleia; congregai o povo, realizai cerimônias de culto, reuni anciãos, ajuntai crianças e lactentes; deixe o esposo seu aposento, e a esposa, seu leito. Chorem, postos entre o vestíbulo e o altar, os ministros sagrados do Senhor, e digam: ‘Perdoa, Senhor, a teu povo, e não deixes que esta tua herança sofra infâmia e que as nações a dominem’. Por que se haveria de dizer entre os povos: ‘Onde está o Deus deles?’ Então o Senhor encheu-se de zelo por sua terra e perdoou ao seu povo”.
   Joel nos mostra que Deus espera o retorno do seu povo e este caminho de volta deve ser feito com atitudes de conversão, Ele em sua infinita bondade e misericórdia de Pai quer que esta mudança venha de dentro para fora “rasgai o coração, e não as vestes;” para assim perdoar e encher de bênçãos o seus filhos. Chamemos todo o povo para este momento de conversão, façamos jejuns sagrados e nos congregamos ao Senhor, todos somos chamados de volta a Deus independentemente da idade, do sexo, da etnia e da condição social, clamemos do fundo do coração pelo perdão do Senhor e Ele não nos desamparará, assim todos conhecerão o Deus misericordioso que com zelo e amor perdoou os seus filhos.
   Falando aos Coríntios (2Cor 5,20-21.6,1-2.) Paulo também vem nos dizer: “Irmãos: Somos embaixadores de Cristo, e é Deus mesmo que exorta através de nós. Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus. Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornemos justiça de Deus. Como colaboradores de Cristo, nós vos exortamos a não receberdes em vão a graça de Deus, pois ele diz: ‘No momento favorável, eu te ouvi e, no dia da salvação, eu te socorri’. É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação”.
   Paulo nos exortar a assumir a nossa missão de embaixadores de Cristo e para isso devemos nos reconciliar com Deus, é o próprio Cristo que nos chama, Ele que mesmo sem pecado se entregou pelos nossos nos abrindo o caminho da graça de Deus, aproveitemos este momento favorável, clamemos, que o nosso Pai do céu está nos ouvindo e eis que vem em nosso socorro. Mergulhados na misericórdia e na graça de Deus, devemos colaborar com a missão de Jesus, como fez os apóstolos, seremos nós os anunciadores para o mundo da misericórdia e da graça de Deus.
   No evangelho segundo Mateus (Mt 6,1-6.16-18.) Jesus nos alerta: “Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: ‘Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles. Caso contrário, não recebereis a recompensa do vosso Pai que está nos céus. Por isso, quando deres esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem elogiados pelos homens. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. Ao contrário, quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita, de modo que a tua esmola fique oculta. E o teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa. Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar de pé, nas sinagogas e nas esquinas das praças, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. Ao contrário, quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta, e reza ao teu Pai que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa. Quando jejuardes, não fiqueis com o rosto triste como os hipócritas. Eles desfiguram o rosto, para que os homens vejam que estão jejuando. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que os homens não vejam que tu estás jejuando, mas somente teu Pai, que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa’”.
      A quase dois mil anos Jesus falou aos discípulos, mas é como se ouvíssemos ecoar hoje estas palavras para nós, “Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles”, o nosso mestre vem nos questionar sobre as intenções das nossas ações, o bem que se faz ao próximo, as atuações nas igrejas e na sociedade, os louvores e as orações que ministramos. Para quê realizamos todas estas coisas? Se for para ficar bem diante das pessoas, é aqui na terra que ganharemos aplausos e admirações, para Deus tudo isso é em vão, pense bem, olhe para o fundo da sua alma e questiona-se sobre a grandeza das suas atitudes.
   Jesus nos mostra que Deus conhece o coração de cada pessoa e Ele reconhece o que está oculto “que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita,” e nos conhece em nossa intimidade, “quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta, e reza ao teu Pai que está oculto, ... quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que os homens não vejam que tu estás jejuando.” Quem precisa saber do bem que eu fiz? Para quem devo dedicar o meu jejum e a minha oração? Somente para Deus que devemos revelar o que fazemos de bom, é Ele que nos dará a verdadeira recompensa, tudo aqui nesta terra é passageiro e devemos primar pelos bens que não passam.
   Participar da celebração das cinzas é reconhecer o quanto somos infinitamente pequenos perante a imensidão de Deus, é saber que precisamos constantemente suplicar o perdão de Deus pelas nossas faltas e confiar que Ele está sempre pronto a perdoar o coração verdadeiramente arrependido, iniciemos este tempo quaresmal com o firme propósito fazer um jejum muito além da abstinência de comidas e de bebidas, aproveitemos este momento favorável para abandonarmos os vícios, a prostituição e a corrupção, voltemos para nossa igreja, sejamos fiéis e participemos ativamente da construção do Reino de Deus, reconciliemo-nos com as pessoas, sejamos honestos primando pela verdade a qualquer custo e lembrando-nos que estas atitudes transformadas são compromissos para uma vida toda, não se encerra junto com o tempo quaresmal. Que Jesus Cristo e Nossa Senhora nos dê forças e nos conduza nesta caminhada.
Rubens Corrêa