Introdução geral
Deus se revela por meio da palavra profética.
Na primeira leitura, Ezequiel anuncia vida nova para os que se encontram sem
esperança no “túmulo” do exílio da Babilônia. O dom do Espírito de Deus
revigora o coração do povo e lhe suscita vida plena com seu regresso à terra de
Israel em plena liberdade (I leitura).
A revelação plena se realiza na pessoa de seu
Filho, hoje por meio da ressurreição de Lázaro. Quem vive e crê nele jamais
morrerá (Evangelho).
Na carta aos Romanos, Paulo orienta os cristãos
a uma vida nova proveniente da fé em Jesus Cristo. É a vida no Espírito. Ele habita em cada
pessoa e suscita vida aos corpos mortais (II leitura).
Os textos deste V domingo enfatizam a vitória
da vida sobre a morte como dom de Deus. O seu Espírito nos faz novas criaturas:
transforma, reanima, fortalece e dá vida.
Comentários aos textos bíblicos
Ezequiel profetizou junto aos exilados na
Babilônia ao redor do ano 580 a.C. O povo encontra-se numa crise profunda de
identidade. Está longe de tudo e de todos. Deus parece ausente. Deus envia o
seu profeta para falar ao seu povo que vive como se estivesse morto. Pela força
de Deus eles se vão levantar das cinzas e sair dos “túmulos” de morte. Em nome
de Deus, Ezequiel anuncia um novo êxodo. No primeiro êxodo, Deus libertou o seu
povo da escravidão do Egito e lhe deu a terra prometida. Agora Deus também quer
libertar o seu povo do exilio da Babilônia e serão reintroduzidos na terra de
Israel. O povo disperso, qual ossos ressequidos espalhado no vale da morte,
será reunido e terá vida de novo. Pela força de Deus, os esqueletos sairão de
seus túmulos e voltarão a ter vida em si. Deus continua a amar o seu povo e lhe
dará vida em liberdade plena.
II leitura (Romanos 8,8-11): Vida nova no
Espírito Santo
A vida no Espírito Santo se contrapõe à vida
segundo a carne, ou seja, aos instintos egoístas. A nossa primeira passagem da
morte à vida deu-se no Batismo, pelo qual “morremos com Cristo, com Ele fomos
sepultados, para vivermos uma vida nova” (Rom 6,4).
Na quinta semana da quaresma escutamos o
Evangelho da ressurreição de Lázaro. Ele faz-nos meditar que todos nós
precisamos morrer para nós mesmos, a fim de alcançar, em Cristo, a verdadeira
vida.
A narrativa da ressurreição de Lázaro
corresponde ao último dos sete sinais de libertação que Jesus realiza no Evangelho
de João. Os relatos dos sete sinais procuram levar os cristãos a refletir sobre
o sentido profundo da vida humana. Em João os sinais revelam Jesus em ação:
(I sinal) Jesus muda a água em vinho nas boas
de Caná da Galileia (2,1-12);
(II sinal) Jesus cura o filho do funcionário
real (4,46-54);
(III sinal) Jesus cura o paralítico à beira da
piscina de Betesda (5,1-18);
(IV sinal) A multiplicação dos pães que mata a
fome do povo (6,1-15);
(V sinal) Jesus caminha sobre as águas
(6,16-21);
(VI sinal) O cego de nascença (9,1-41);
(VII sinal) A ressurreição de Lázaro ( 11,
1-45).
Todos os sinais visam apresentar Jesus como o
Messias que veio para resgatar a vida plena para os seres humanos. Em cada
sinal, percebe-se um propósito pedagógico: a representação de um caminho novo
apontado por Jesus para derrubar todas as barreiras que impedem a pessoa de
realizar-se plenamente.
Em meio às trevas da incredulidade e da
desesperança, Jesus faz brilhar o sol da esperança. A morte não detém a última
palavra. Jesus é a ressurreição e a vida.
RICA: A liturgia do quinto domingo da Quaresma
reserva aos catecúmenos o terceiro escrutínio. Com o Evangelho de Lázaro, o
eleito é colocado no drama da morte e ressurreição de Cristo que é caminho,
verdade e vida.
O Evangelho acentua, por cinco vezes, a relação de
amizade de Jesus por Lázaro e pelas suas irmãs: “Vede como era seu amigo” (Jo
11, 36) e, ao mesmo tempo, desenvolve o diálogo orante de Jesus com o Pai: “Pai,
dou-Te graças por me teres atendido” (Jo 11,41).
Nesta semana, somos desafiados a valorizar a
ORAÇÃO, como um “tratar de AMIZADE com Aquele que sabemos que nos ama” (Santa
Teresa de Jesus, Livro da Vida, 8,5).
Luis Filipe Dias |