Introdução
As leituras deste domingo destacam a
transfiguração de Jesus como prefiguração de sua ressurreição. É salutar saber
que, embora os Evangelhos jamais tenham mencionado o nome do monte onde Jesus
se transfigurou, no entanto, a tradição do século IV, com Cirilo de Jerusalém e
Jerônimo, aponta o monte Tabor como o lugar cristofânico.
Esta festa torna-se
universal graças ao Papa Calixto III, em 1457, em ação de graças pela vitória
contra os turcos em Belgrado, em 6 de agosto de 1456.
A visão apocalíptica
assinalada na visão de Daniel (I Leitura), o testemunho de Pedro (II Leitura) e
a voz do Pai (Evangelho) indicam o conteúdo central da liturgia deste domingo
que toma o lugar do XVIII domingo comum.
Comentários aos textos
A visão apocalíptica descrita por
Daniel ilumina para nós a passagem da Transfiguração descrita no Evangelho,
seja no seu esplendor divino seja no sentido de que o Eterno Pai vai outorgar
ao Filho do Homem todo o poderio universal.
II Leitura (2 Pedro 1,16-19): “Como
lâmpada que brilha no escuro”.
Pedro recorda que no monte Tabor a
filiação divina de Jesus foi reafirmada pela voz do Pai. Nesta filiação se
derrama toda a graça e dela recebemos a herança de uma filiação focada na
plenitude de Deus feito homem.
Evangelho (Mateus 17,1-9): “Suas roupas
ficaram alvas como a luz”.
O evento da Transfiguração descrito no
Evangelho da festa, nos chama a atenção para dois detalhes: a figura de Moisés
que caracteriza a “lei” e Elias com sua “eloquência profética”, ambos foram na
montanha fazer uma experiência de Deus assim como Jesus na sua Transfiguração.
Moisés recebe sua vocação-missão para
conduzir um povo rebelde à Terra prometida; Elias tem a missão de conduzir o
povo de Deus seguindo instruções específicas da parte de Deus.
Jesus anuncia a Pedro, Tiago e João
que, mesmo tendo visto sua glória em antecipação. Pede segredo do ocorrido,
revela que para chegar à glória futura terá de passar pelo crivo da humilhação,
da paixão, da morte e finalmente da Ressurreição.
Moisés, depois de cumprir sua missão,
terá um substituto, Josué, seu fiel discípulo e colaborador; Elias terá Eliseu
que herda parte do seu carisma e Jesus terá Pedro, sobre o qual edifica sua
Igreja.
O dia do Padre foi transferido para
este dia em vez do dia 4:
- Saber vestir o avental do serviço ao
povo santo de Deus (Hb 5,1);
- a Igreja se coloca
de joelhos diante de Cristo, o Eterno Sacerdote;
- ... “não fostes vós
que me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi” (Jo 15,16)
Comunidade é se transfigurar em Cristo
UM ANTEGOZO DO REINO: A TRANSFIGURAÇÃO
554. A partir do dia em que Pedro
confessou que Jesus era o Cristo, Filho do Deus vivo, o Mestre «começou a
explicar aos seus discípulos que tinha de ir a Jerusalém e lá sofrer, que tinha
de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia» (Mt 16, 21). Pedro
rejeita este anúncio e os outros também não o entendem (Lc 9,45). É neste
contexto que se situa o episódio misterioso da transfiguração de Jesus (Mt
17,1-9), em cima de uma alta montanha, perante três testemunhas por Ele
escolhidas: Pedro, Tiago e João. O rosto e as vestes de Jesus tornaram-se
fulgurantes de luz, Moisés e Elias aparecem, «e falam da sua morte, que ia
consumar-se em Jerusalém» (Lc 9, 31). Uma nuvem envolve-os e uma
voz do céu diz: «Este é o meu Filho predileto: escutai-O» (Lc 9,
35).
555. Por um momento, Jesus mostra a
sua glória divina, confirmando assim a confissão de Pedro. Mostra também que,
para «entrar na sua glória» (Lc 24, 26), tem de passar pela cruz em
Jerusalém.
Moisés e Elias tinham visto a glória de
Deus sobre a montanha; a Lei e os Profetas tinham anunciado os sofrimentos do
Messias (Cf. Lc 24,27).
A paixão de Jesus é da vontade do Pai:
o Filho age como Servo de Deus (Cf. Is 42,1). A nuvem indica a presença do
Espírito Santo: Apareceu toda a Trindade: o Pai na voz; o Filho na
humanidade; o Espírito Santo na nuvem luminosa» (S. Tomás de Aquino):
«Transfiguraste-Te sobre a montanha e,
na medida em que disso eram capazes, os teus discípulos contemplaram a tua
glória, ó Cristo Deus; para que, quando Te vissem crucificado, compreendessem
que a tua paixão era voluntária, e anunciassem ao mundo que Tu és
verdadeiramente a irradiação do Pai» (Liturgia bizantina).
556. No limiar da vida pública, o batismo;
no limiar da Páscoa, a transfiguração. Pelo batismo de Jesus foi declarado
o mistério da (nossa) primeira regeneração» – o nosso Batismo; e a
transfiguração é o sacramento da (nossa) segunda regeneração»
– a nossa própria ressurreição. Desde agora, nós participamos na ressurreição
do Senhor pelo Espírito Santo que atua nos sacramentos do Corpo de Cristo.
A transfiguração dá-nos um antegozo da
vinda gloriosa de Cristo, «que transfigurará o nosso corpo miserável para o
conformar com o seu corpo glorioso» (Fl 3, 21). Mas lembra-nos
também que temos de passar por muitas tribulações para entrar no Reino de Deus»
(At 14, 22): «Era isso que Pedro ainda não tinha compreendido, quando
manifestava o desejo de ficar com Cristo em cima da montanha.
Isso, Ele te reservou, Pedro, para
depois da morte. Mas agora, Ele próprio te diz: Desce para sofrer na Terra,
para servir na Terra, para ser desprezado e crucificado na Terra. A Vida desce
para se fazer matar: o Pão desce para passar fome; o Caminho desce para se
cansar de andar; a Fonte desce para ter sede; – e tu recusas-te a sofrer?»
(Santo Agostinho).
Luis Filipe Dias |