segunda-feira, 31 de julho de 2017

“Transfigurou-se diante deles” Mt 17,2 (06/08/2017)

Introdução
As leituras deste domingo destacam a transfiguração de Jesus como prefiguração de sua ressurreição. É salutar saber que, embora os Evangelhos jamais tenham mencionado o nome do monte onde Jesus se transfigurou, no entanto, a tradição do século IV, com Cirilo de Jerusalém e Jerônimo, aponta o monte Tabor como o lugar cristofânico.

Esta festa torna-se universal graças ao Papa Calixto III, em 1457, em ação de graças pela vitória contra os turcos em Belgrado, em 6 de agosto de 1456.

A visão apocalíptica assinalada na visão de Daniel (I Leitura), o testemunho de Pedro (II Leitura) e a voz do Pai (Evangelho) indicam o conteúdo central da liturgia deste domingo que toma o lugar do XVIII domingo comum.

Comentários aos textos
I Leitura (Daniel 7,9-10.13-14): “Suas vestes eram brancas como a neve”.
A visão apocalíptica descrita por Daniel ilumina para nós a passagem da Transfiguração descrita no Evangelho, seja no seu esplendor divino seja no sentido de que o Eterno Pai vai outorgar ao Filho do Homem todo o poderio universal.

II Leitura (2 Pedro 1,16-19): “Como lâmpada que brilha no escuro”.
Pedro recorda que no monte Tabor a filiação divina de Jesus foi reafirmada pela voz do Pai. Nesta filiação se derrama toda a graça e dela recebemos a herança de uma filiação focada na plenitude de Deus feito homem.

Evangelho (Mateus 17,1-9): “Suas roupas ficaram alvas como a luz”.
O evento da Transfiguração descrito no Evangelho da festa, nos chama a atenção para dois detalhes: a figura de Moisés que caracteriza a “lei” e Elias com sua “eloquência profética”, ambos foram na montanha fazer uma experiência de Deus assim como Jesus na sua Transfiguração.

Moisés recebe sua vocação-missão para conduzir um povo rebelde à Terra prometida; Elias tem a missão de conduzir o povo de Deus seguindo instruções específicas da parte de Deus.

Jesus anuncia a Pedro, Tiago e João que, mesmo tendo visto sua glória em antecipação. Pede segredo do ocorrido, revela que para chegar à glória futura terá de passar pelo crivo da humilhação, da paixão, da morte e finalmente da Ressurreição.

Moisés, depois de cumprir sua missão, terá um substituto, Josué, seu fiel discípulo e colaborador; Elias terá Eliseu que herda parte do seu carisma e Jesus terá Pedro, sobre o qual edifica sua Igreja.

O dia do Padre foi transferido para este dia em vez do dia 4:
- Saber vestir o avental do serviço ao povo santo de Deus (Hb 5,1);
- a Igreja se coloca de joelhos diante de Cristo, o Eterno Sacerdote;
- ... “não fostes vós que me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi” (Jo 15,16)
 Comunidade é se transfigurar em Cristo

UM ANTEGOZO DO REINO: A TRANSFIGURAÇÃO
554. A partir do dia em que Pedro confessou que Jesus era o Cristo, Filho do Deus vivo, o Mestre «começou a explicar aos seus discípulos que tinha de ir a Jerusalém e lá sofrer, que tinha de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia» (Mt 16, 21). Pedro rejeita este anúncio e os outros também não o entendem (Lc 9,45). É neste contexto que se situa o episódio misterioso da transfiguração de Jesus (Mt 17,1-9), em cima de uma alta montanha, perante três testemunhas por Ele escolhidas: Pedro, Tiago e João. O rosto e as vestes de Jesus tornaram-se fulgurantes de luz, Moisés e Elias aparecem, «e falam da sua morte, que ia consumar-se em Jerusalém» (Lc 9, 31). Uma nuvem envolve-os e uma voz do céu diz: «Este é o meu Filho predileto: escutai-O» (Lc 9, 35).

555. Por um momento, Jesus mostra a sua glória divina, confirmando assim a confissão de Pedro. Mostra também que, para «entrar na sua glória» (Lc 24, 26), tem de passar pela cruz em Jerusalém.

Moisés e Elias tinham visto a glória de Deus sobre a montanha; a Lei e os Profetas tinham anunciado os sofrimentos do Messias (Cf. Lc 24,27).

A paixão de Jesus é da vontade do Pai: o Filho age como Servo de Deus (Cf. Is 42,1). A nuvem indica a presença do Espírito Santo: Apareceu toda a Trindade: o Pai na voz; o Filho na humanidade; o Espírito Santo na nuvem luminosa» (S. Tomás de Aquino):

«Transfiguraste-Te sobre a montanha e, na medida em que disso eram capazes, os teus discípulos contemplaram a tua glória, ó Cristo Deus; para que, quando Te vissem crucificado, compreendessem que a tua paixão era voluntária, e anunciassem ao mundo que Tu és verdadeiramente a irradiação do Pai» (Liturgia bizantina).

556. No limiar da vida pública, o batismo; no limiar da Páscoa, a transfiguração. Pelo batismo de Jesus foi declarado o mistério da (nossa) primeira regeneração» – o nosso Batismo; e a transfiguração é o sacramento da (nossa) segunda regeneração» – a nossa própria ressurreição. Desde agora, nós participamos na ressurreição do Senhor pelo Espírito Santo que atua nos sacramentos do Corpo de Cristo.

A transfiguração dá-nos um antegozo da vinda gloriosa de Cristo, «que transfigurará o nosso corpo miserável para o conformar com o seu corpo glorioso» (Fl 3, 21). Mas lembra-nos também que temos de passar por muitas tribulações para entrar no Reino de Deus» (At 14, 22): «Era isso que Pedro ainda não tinha compreendido, quando manifestava o desejo de ficar com Cristo em cima da montanha.

Isso, Ele te reservou, Pedro, para depois da morte. Mas agora, Ele próprio te diz: Desce para sofrer na Terra, para servir na Terra, para ser desprezado e crucificado na Terra. A Vida desce para se fazer matar: o Pão desce para passar fome; o Caminho desce para se cansar de andar; a Fonte desce para ter sede; – e tu recusas-te a sofrer?» (Santo Agostinho).
Luis Filipe Dias



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