“Será permitido ao sábado fazer bem ou fazer mal,
salvar a vida ou tirá-la?” Mas eles ficaram calados. Então, olhando-os com
indignação e entristecido com a dureza dos seus corações, disse ao homem: “Estende
a mão”. Ele a estendeu e a mão ficou curada.
Forte e incisiva, penetrante como espada de dois
gumes a Palavra deste Domingo! Que o Senhor me cure também a “mão mirrada”
(coração). Sim, que as palavras aqui escritas que saem dela em dores proféticas
endireitem as veredas do meu próprio coração e as veredas do coração daqueles
que se sentam comigo à mesa da partilha. “Ai de mim se não anunciar o
Evangelho.” (I Cor 9,16).
“O sábado foi feito para o homem e não o homem para
o sábado.” Aquele “sábado” do
Evangelho, outros “sábados” também
dos nossos dias, às vezes parecem ter parado a vida para nos introduzir numa
outra vida estranha à Vida, ao Evangelho, estranha ao caminho que o Senhor fez
entre nós, impedindo que o coração descanse em Deus, que descanse simplesmente
sem ter que andar por aí arrebentando a alma com as aparências, a forma, o
lugar, o dia, a data, a hora.
E depois, chega Jesus, invade os nossos “sábados” e atira-nos a mesma provocação
divinamente incómoda que nos desinstala das nossas certezas e escrúpulos “sagrados”, como atirou ao coração
daqueles que o interrogavam, almas facilmente escandalizáveis com qualquer
alteração ao “sábado”, à “ordem”, ao “lugar e hora”, ao “sempre
foi assim”, feitos “porteiros” do
milagre e do sagrado, da misericórdia.
Quando um coração recusa deixar-se guiar pelo
Espírito Santo, quando recusa o único caminho que nos leva à Salvação, que nos
leva ao Pai, esse caminho que é Jesus, convencido que pode tudo, até salvar-se
por si mesmo e pelos seus “sábados”,
perde-se e faz perder outros. E não só os faz perder, como impede que se
aproximem de Jesus e da sua graça como estava ali a acontecer.
Não, não quero acreditar que nos deixemos habitar
por corações como os fariseus deste Evangelho! Não, não quero acreditar que as
aparências, a forma, a data, o dia, a hora, o lugar fazem e constroem o
espírito dos nossos “sábados”. Não,
não quero acreditar que os nossos “sábados”
tenham o primado sobre a necessidade humana, sobre a condição humana, como este
homem que foi curado! Não, não quero acreditar que os nossos “sábados” ultrapassem o Amor e a
Misericórdia, que tenham o primado sobre a cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Aquilo que o Evangelho me ensina; aquilo que Jesus
me diz com a sua vida; aquilo que são os significados do reino de Deus,
gritam-me todos os dias ao coração e ao olhar, que em Jesus, ele que descansava
sempre que necessitava e a possibilidade surgia, dizem-me que todo e qualquer
dia é santo, seja qual for o dia, seja qual for a manhã, seja qual for a tarde,
seja qual for a noite, seja qual for o lugar.
Onde o Amor e a Misericórdia se encontram, é sábado
santo, é dia do descanso na paz que excede todo o entendimento, é dia do
Senhor, o meu, o teu, o nosso, Ele que é PAI NOSSO, Pai de todos; é dia de
salvação. “O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado.”
O “sábado”
foi feito e foi-nos dado, para te deixares encontrar e encontrar Jesus, deixares
curar-te por Ele. Só um coração curado pelo Amor pode descansar no Senhor.
I leitura (Dt 5,12-15): “Recorda-te que foste
escravo no Egito”.
O sábado restaura as relações do ser humano com
Deus, restaura as relações de trabalho com o mundo social e com a natureza.
II leitura (2 Cor 4,6-11): “Temos esse tesouro em
vasos de barro”.
Somos vasos de barro (argila), somos frágeis. Mas a
força de Deus em nós nos torna capazes de participar da cruz de Cristo para
sermos realmente livres da escravidão do pecado. Livres de toda a dor, de todo
o sofrimento, do pecado e da morte, somos livres para Deus em Cristo Jesus.
“Pois para a liberdade Cristo nos libertou” (Gl 5,1).
Para refletir:
Olhando para o mundo atual e nossa sociedade, para nossa rotina cotidiana e prática da fé, sentimos que as pessoas não conseguem ver Deus como um companheiro, um aliado. Muitos enxergam Deus como inimigo da felicidade, como um atrapalho na vida, alguém que impõe mandamentos, coloca limites para as atitudes e exige algumas práticas a mais para serem realizadas: “São muitos os que continuam pensando que, sem ele, a vida seria mais livre, espontânea e feliz”.
Luis Filipe Dias |
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