Neste domingo celebramos a exaltação da cruz, longe de ser uma adoração ao símbolo de morte e humilhação a qual Jesus foi submetido, a cruz representa para nós cristãos um ato de amor incondicional, às vezes defendemos com unhas e dentes a nossa maneira de seguir a fé em Jesus Cristo, mas, nos esquecemos de tudo o que representou a entrega na cruz e como ele a abraçou durante o percurso do calvário, Jesus não foi vencido pela cruz, ele a santificou e nos entregou como símbolo maior da sua adesão ao projeto de Deus.
Na primeira leitura vemos o povo que se revolta com Moisés e com Deus, “Naqueles dias, os filhos de Israel partiram do monte Hor, pelo caminho que leva ao mar Vermelho, para contornarem o país de Edom. Durante a viagem o povo começou a impacientar-se, e se pôs a falar contra Deus e contra Moisés, dizendo: Por que nos fizestes sair do Egito para morrermos no deserto? Não há pão, falta água, e já estamos com nojo desse alimento miserável.”(Nm. 21, 4b – 5.) Uma longa caminha no deserto a caminho da terra prometida, muitas privações e dificuldades, o povo ainda não tinha amadurecido a fé e a confiança no Senhor, nós também não somos diferentes, em nossas vidas muitas vezes desistimos da caminhada por que o caminho é muito difícil e transferimos a outros a culpa de nossos fracassos.
Nos versículos seguintes vemos que quando o mal nos amedronta voltamos e pedimos a proteção de quem anteriormente colocamos a culpa dos nossos sofrimentos, “Então o Senhor mandou contra o povo serpentes venenosas, que os mordiam; e morreu muita gente em Israel. O povo foi ter com Moisés e disse: Pecamos, falando contra o Senhor e contra ti. Roga ao Senhor que afaste de nós as serpentes. Moisés intercedeu pelo povo, e o Senhor respondeu: Faze uma serpente de bronze e coloca-a como sinal sobre uma haste; aquele que for mordido e olhar para ela viverá. Moisés fez, pois, uma serpente de bronze e colocou-a como sinal sobre uma haste. Quando alguém era mordido por uma serpente, e olhava para a serpente de bronze, ficava curado.”(Nm. 21, 6 – 9.) Poderíamos focar nesta leitura na figura do Deus cruel e vingativo, mas, Deus não se faz presente no meio do povo desta forma, as serpentes que encontramos no meio do caminho são resultado de nossas escolhas ruins, quando o nosso coração se afasta de Deus, o nosso corpo sofre por isso, Moisés intercede a Deus a favor do povo, e Deus devolve a esperança e a vida ao povo. Olhar para a serpente de bronze e se curar, não é mérito a um ídolo de bronze e sim é a volta da confiança do povo aos designíos de Deus.
Na segunda leitura o Apostolo São Paulo nos diz, “Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo nome. Assim, ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua proclame: Jesus Cristo é o Senhor — para a glória de Deus Pai.”(Fl. 2, 6 – 11.) Jesus não se ostentou de sua condição divina, ele se manteve fiel até mesmo quando sofria terríveis torturas, sendo tratado como o pior de todos os bandidos, foi por amor que ele se entregou para nos redimir dos nossos pecados. E nós estamos sendo merecedores deste amor gratuito de Jesus por nós? Que lugar Jesus ocupa em nossas vidas? Devemos ser o sinal vivo deste amor de Jesus para os nossos irmãos.
No evangelho segundo São João, Jesus nos fala: “Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem. Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna. Pois Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele.”(Jo. 3, 13 – 17.) Jesus mostra que ele é o caminho para ganharmos a salvação, mas, como na primeira leitura Moisés ergue a serpente e aqueles que olharam ficaram curados, também ele deveria ser erguido para que olhando este gesto de amor acima de qualquer barreiras também possamos alcançar a salvação, mas, não devemos ficar somente contemplativos ao Jesus crucificado nos altares das igrejas, este Jesus se faz presente hoje em cada irmão que passa fome, sede, que está nu ou preso, devemos ver neste gesto de Jesus algo que nos impulsiona para lutar por um mundo melhor para todos.
Jesus não ficou preso a cruz, ele ressuscitou e vive no meio de nós, devemos levar este sinal para os nossos irmãos, não como um sinal de morte impondo terríveis fardos, oprimindo em nome da fé, no passado tivemos erros terríveis em nome da fé, não podemos permitir que isso torne a acontecer, o sinal que devemos levar aos nossos irmãos é o da esperança, da liberdade e da vida, não uma sobrevida, e sim uma vida plena, com perfeito equilíbrio entre direitos e deveres, não podemos mais aceitar que um país como o Brasil, considerado como o maior país cristão do mundo, muitos sofrem com a miséria, com as drogas e com a violência, contemplar a cruz de Jesus é entender que mesmo sendo difícil e sofrendo perseguições devemos nos manter firmes na missão que ele confiou a cada um de nós.
Rubens Corrêa |
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