Introdução
Deus chama continuamente o ser humano para
deixar os caminhos tortuosos e dizer um “sim” consciente e maduro, que seja
realmente “sim”. Por isso, Deus envia os profetas (mediadores), na tentativa de
chegar ao coração de seus filhos.
Na primeira Leitura, Ezequiel convida os
israelitas exilados na Babilônia a viverem com coerência o Sim dado ao Senhor e
à Aliança. (Ez 18,25-28)
A História da Vinha
ilustra o cuidado e o amor do Senhor pela sua vinha: videiras escolhidas;
lugares bem cuidados, esperava uma grande colheita. Mas a decepção foi grande:
só produziu uvas ácidas, sem utilidade.
Na segunda Leitura, Paulo apresenta o
exemplo de Jesus: despoja-se da condição divina, assume a condição humana e diz
"SIM" ao Pai até a morte de Cruz. (Fl 2,1-11)
Evangelho de Mateus(Mt 21,28-32): parábola dos
dois filhos que mudam de atitude
Deus nos faz livres e respeita a nossa
liberdade de escolha. Cabe a cada um responder “sim” ou “não” ao seu convite.
Há sempre a possibilidade de mudar de rumo. Só um dos filhos fez a vontade do
pai. O Evangelho se situa no contexto da rejeição de Jesus por parte dos chefes
do povo. Ele encontra-se em Jerusalém e seu tempo está cada vez menor. Aumenta
a hostilidade daqueles que rejeitam sua mensagem. O que está em jogo é fazer a
vontade de Deus.
Um filho diz “não” e depois vai trabalhar na
vinha do Pai; o outro diz “sim”, mas afinal não vai. Perante a pergunta de
Jesus sobre quem fez a vontade do pai, os sumos sacerdotes e os anciãos do povo
dizem que foi o filho que apesar de dizer “não” acabou por cumprir a ordem do
pai. Jesus vai completar dizendo que os pecadores vão preceder no reino de Deus
os demais que não acreditaram na pregação de João Batista e no caminho de
justiça que ele ensinou.
Continuamos a
refletir sobre a Igreja, "Vinha do Senhor". No domingo passado, vimos
que todos éramos chamados a trabalhar na vinha do Senhor e receber a paga
generosa. Hoje veremos qual pode ser nossa resposta a esse chamado.
O que a parábola nos diz hoje?
Também em nossos
dias, Deus continua tendo dois filhos: Alguns, no Batismo, dizem
"Sim", mas depois, na vida concreta, transformam o "Sim" em
muitos "Não".
Outros nunca
disseram um "Sim" explícito para Deus, mas, na prática de cada dia,
amam o irmão, se sacrificam pelos outros, executam muitas obras de caridade.
Estes, ainda que
não batizados, são verdadeiros Filhos de Deus: "Nisto conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos
outros como eu vos amei...".
Hoje muitos, que se
dizem católicos, afirmam: Cristo SIM, Igreja NÃO.
Mês
missionário: Missão é partir
A saída da qual o Documento de Aparecida
e o Papa Francisco falam, é uma saída profunda, que toca as dimensões mais íntimas
da vida dos discípulos missionários e da Igreja como um todo. Não é sair
simplesmente para impor a nossa vontade e a nossa visão de mundo, querendo
“organizar” o mundo dos outros. Isso não é missão: é dominação.
Não é sair simplesmente para estender
a nossa influência na sociedade secularizada e agregar mais adeptos à nossa
instituição. Também isso não é missão: é proselitismo. Não é somente sair com
as boas intensões de fazer do mundo uma só família e ser solidários com os mais
pobres, e buscar com isso apenas uma realização pessoal. Da mesma forma, isso
não é missão: é auto complacência.
A saída missionária exige purificação,
atitude penitencial e uma profunda conversão. “Impõe-se uma conversão radical
da mentalidade para nos tornarmos missionários” (RMi 49): “trata-se de sair de
nossa consciência isolada e de nos lançarmos, com ousadia e confiança, à
missão de toda Igreja’ (DAp 363), abandonando estruturas caducas (cf. DAp 365),
transformando as pessoas (cf. DAp 366), assumindo relações de comunhão (cf.
DAp 368), adotando práticas pastorais missionárias (cf. DAp 370), projetando-se
além-fronteiras (DAp 376)”. Mais do que isso, o conceito e a prática da missão
mudam radicalmente a perspectiva da saída. Essa mudança consiste em passar da
visão de missão como “expansão” à missão como “encontro”. Ao contrário de
visualizar as pessoas para que estas sejam, de alguma forma, catequizadas,
“redimidas” ou “salvas”, tal como “objetos” ou “alvos” da ação eclesial, a
prática contemporânea da missão transforma-se profundamente ao tentar
compreendê-las como o “outro” a ser encontrado. Missão, portanto, não é apenas
um fazer coisas para pessoas. É, em primeiro lugar, ser companheiro dos pobres
(cf. DAp 398) e hóspedes na casa dos outros.
O encontro com Jesus Cristo é
proporcionado pela maneira com a qual nos aproximamos e encontramos as pessoas.
“Na América Latina e no Caribe – diz o Papa Francisco – existem pastorais ‘distantes’,
pastorais disciplinares que privilegiam os princípios, as condutas, os
procedimentos organizacionais, sem proximidade, sem ternura, nem carinho.
Ignora-se a ‘revolução da ternura’, que provocou a encarnação do Verbo.
Há pastorais posicionadas com tal dose
de distância que são incapazes de conseguir o encontro: encontro com Jesus
Cristo, encontro com os irmãos. Esse tipo de pastoral pode, no máximo, prometer
uma dimensão de proselitismo, mas nunca chega a conseguir inserção nem pertença
eclesial. A proximidade cria comunhão e pertença, dá lugar ao encontro.
A proximidade toma forma de diálogo e
cria uma cultura do encontro”. É isso que queremos propor ao convocar o 4º
Congresso Missionário Nacional: aprofundar e assumir esse “paradigma da saída”
e nele reencontrar a mais genuína vocação da Igreja de ser próxima e solidária
com as pessoas, ad gentes, até os confins da terra.
Missão é partir
Missão é partir, caminhar, deixar
tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no nosso eu. É
parar de dar voltas ao redor de nós mesmos, como se fôssemos o centro do mundo
e da vida. É não se deixar bloquear nos problemas do pequeno mundo a que
pertencemos: A humanidade é maior. Missão é sempre partir, mas não é devorar
quilômetros. É, sobretudo, abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e
encontra-los. E, se para encontra-los e amá-los é preciso atravessar os mares e
voar lá nos céus, então missão é partir até os confins do mundo. (Dom Helder
Câmara)
Luis Filipe Dias |