quinta-feira, 28 de setembro de 2017

“Ensina-me, Senhor, os teus caminhos” Sl 125,4 (01/10/2017)

Introdução
Deus chama continuamente o ser humano para deixar os caminhos tortuosos e dizer um “sim” consciente e maduro, que seja realmente “sim”. Por isso, Deus envia os profetas (mediadores), na tentativa de chegar ao coração de seus filhos.

Na primeira Leitura, Ezequiel convida os israelitas exilados na Babilônia a viverem com coerência o Sim dado ao Senhor e à Aliança. (Ez 18,25-28)
A História da Vinha ilustra o cuidado e o amor do Senhor pela sua vinha: videiras escolhidas; lugares bem cuidados, esperava uma grande colheita. Mas a decepção foi grande: só produziu uvas ácidas, sem utilidade.
Na segunda Leitura, Paulo apresenta o exemplo de Jesus: despoja-se da condição divina, assume a condição humana e diz "SIM" ao Pai até a morte de Cruz. (Fl 2,1-11)

Evangelho de Mateus(Mt 21,28-32): parábola dos dois filhos que mudam de atitude
Deus nos faz livres e respeita a nossa liberdade de escolha. Cabe a cada um responder “sim” ou “não” ao seu convite. Há sempre a possibilidade de mudar de rumo. Só um dos filhos fez a vontade do pai. O Evangelho se situa no contexto da rejeição de Jesus por parte dos chefes do povo. Ele encontra-se em Jerusalém e seu tempo está cada vez menor. Aumenta a hostilidade daqueles que rejeitam sua mensagem. O que está em jogo é fazer a vontade de Deus.

Um filho diz “não” e depois vai trabalhar na vinha do Pai; o outro diz “sim”, mas afinal não vai. Perante a pergunta de Jesus sobre quem fez a vontade do pai, os sumos sacerdotes e os anciãos do povo dizem que foi o filho que apesar de dizer “não” acabou por cumprir a ordem do pai. Jesus vai completar dizendo que os pecadores vão preceder no reino de Deus os demais que não acreditaram na pregação de João Batista e no caminho de justiça que ele ensinou. 

Continuamos a refletir sobre a Igreja, "Vinha do Senhor". No domingo passado, vimos que todos éramos chamados a trabalhar na vinha do Senhor e receber a paga generosa. Hoje veremos qual pode ser nossa resposta a esse chamado.

O que a parábola nos diz hoje?
Também em nossos dias, Deus continua tendo dois filhos: Alguns, no Batismo, dizem "Sim", mas depois, na vida concreta, transformam o "Sim" em muitos "Não".
Outros nunca disseram um "Sim" explícito para Deus, mas, na prática de cada dia, amam o irmão, se sacrificam pelos outros, executam muitas obras de caridade.
Estes, ainda que não batizados, são verdadeiros Filhos de Deus: "Nisto conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros como eu vos amei...".
Hoje muitos, que se dizem católicos, afirmam: Cristo SIM, Igreja NÃO.

Mês missionário: Missão é partir
A saída da qual o Documento de Aparecida e o Papa Francisco falam, é uma saída profunda, que toca as dimensões mais ínti­mas da vida dos discípulos missionários e da Igreja como um todo. Não é sair simplesmente para impor a nossa vontade e a nossa visão de mundo, querendo “organizar” o mundo dos outros. Isso não é missão: é dominação.
Não é sair sim­plesmente para estender a nossa influência na sociedade secularizada e agregar mais adeptos à nossa instituição. Também isso não é missão: é proselitismo. Não é somente sair com as boas intensões de fazer do mundo uma só família e ser solidários com os mais pobres, e buscar com isso apenas uma realização pessoal. Da mesma forma, isso não é missão: é auto complacência. 

A saída missionária exige purificação, atitude penitencial e uma profunda conversão. “Impõe-se uma conversão radical da mentalidade para nos tornarmos missionários” (RMi 49): “trata-se de sair de nossa consciên­cia isolada e de nos lançarmos, com ousadia e confiança, à missão de toda Igreja’ (DAp 363), abandonando estruturas caducas (cf. DAp 365), transfor­mando as pessoas (cf. DAp 366), assumindo relações de comunhão (cf. DAp 368), adotando práticas pastorais missionárias (cf. DAp 370), projetando-se além-fronteiras (DAp 376)”. Mais do que isso, o conceito e a prática da missão mudam radi­calmente a perspectiva da saída. Essa mudança consiste em passar da vi­são de missão como “expansão” à missão como “encontro”. Ao contrário de visualizar as pessoas para que estas sejam, de alguma forma, catequiza­das, “redimidas” ou “salvas”, tal como “objetos” ou “alvos” da ação eclesial, a prática contemporânea da missão transforma-se profundamente ao tentar compreendê-las como o “outro” a ser encontrado. Missão, portanto, não é apenas um fazer coisas para pessoas. É, em primeiro lugar, ser companheiro dos pobres (cf. DAp 398) e hóspedes na casa dos outros. 

O encontro com Jesus Cristo é proporcionado pela maneira com a qual nos aproximamos e encontramos as pessoas. “Na América Latina e no Caribe – diz o Papa Francisco – existem pastorais ‘distantes’, pastorais disciplinares que privilegiam os princípios, as condutas, os procedimentos organizacionais, sem proximidade, sem ternura, nem carinho. Ignora-se a ‘revolução da ternura’, que provocou a encarnação do Verbo.
Há pastorais posicionadas com tal dose de distância que são incapazes de conseguir o encontro: encontro com Jesus Cristo, encontro com os irmãos. Esse tipo de pastoral pode, no máximo, prometer uma dimensão de proselitismo, mas nunca chega a conseguir inserção nem pertença eclesial. A proximidade cria comunhão e pertença, dá lugar ao encontro.

A proximidade toma forma de diálogo e cria uma cultura do encontro”. É isso que queremos propor ao convocar o 4º Congresso Mis­sionário Nacional: aprofundar e assumir esse “paradigma da saída” e nele reencontrar a mais genuína vocação da Igreja de ser próxima e solidária com as pessoas, ad gentes, até os confins da terra. 

Missão é partir

Missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no nosso eu. É parar de dar voltas ao redor de nós mesmos, como se fôssemos o centro do mundo e da vida. É não se deixar bloquear nos problemas do pequeno mundo a que pertencemos: A humanidade é maior. Missão é sempre partir, mas não é devorar quilômetros. É, sobretudo, abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontra-los. E, se para encontra-los e amá-los é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus, então missão é partir até os confins do mundo. (Dom Helder Câmara)
Luis Filipe Dias

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