Caminhamos todos juntos para o Calvário, lugar de morte (crânio ou
caveira), mas prosseguiremos além da Cruz e dos sinais de morte. Somos parte da
multidão que aclamou Jesus entrando em Jerusalém e que agora carrega a cruz.
Vamos com diferentes motivações: curiosidade, coscuvilhice, em busca de um
sentido para a nossa vida. Mais próximos ou mais distantes caminhamos como
multidão anônima. Ajudamos Jesus a levar a Sua Cruz como Cireneu ou como os pais
e as mães choram por medo do que possa suceder aos nossos filhos e filhas.
Aquelas mulheres de Jerusalém associam o seu choro ao da Virgem Mãe, que em
silêncio acompanha o seu filho na última viagem. Judeus e soldados romanos se
misturam na multidão. Autoridades judaicas e executores materiais de decisões e
juízos convenientes se amontoam.
No final, o dia escurece, mas mesmo assim não desaparece nem a
delicadeza nem a esperança. Primeiro o centurião, que glorifica a Deus por toda
a dor, todo o amor, de Jesus na Cruz: “Realmente este homem era justo!” (Lc 23,47)
Depois, José de Arimateia a mostrar que é sempre possível a compaixão.
Uma das últimas obras de misericórdia corporal: enterrar os mortos. E nem um
copo de água ficará sem recompensa!
Ecoam até ao túmulo as últimas palavras de Jesus: “Pai, em tuas
mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46). No meio daquele torpor guardamos a
certeza da entrega confiante de Jesus nas mãos do Pai. Entrega-se e entrega-nos,
confia-nos, a Deus, Pai de Misericórdia.
Liturgia
da Palavra
A Liturgia
da PAIXÃO não tem a celebração da Eucaristia, mas apenas a distribuição da
Comunhão. Tem uma
introdução e uma conclusão silenciosa e quatro momentos distintos: A Liturgia
da Palavra nos apresenta uma síntese da vida e da ação de Jesus: Ele é o SERVO
que carrega os pecados da humanidade (Isaias 52,13-53,120); O REI Universal que
dá a vida (Evangelho de João 18,1-19,42)); O único Sacerdote e Mediador entre
Deus e a humanidade (Hebreus 4,14-16; 5,7- 9).
Anúncio da Paixão de Cristo
A Paixão de
nosso Senhor Jesus Cristo segundo João nos introduz no mistério pascal, que
hoje revivemos. Jesus morre no momento em que, no templo, se imolam os
cordeiros para a celebração da Páscoa. João é muito sóbrio a respeito dos
sofrimentos. Ele não pretende comover os cristãos com a descrição dos tormentos
de Jesus, mas procura fazer entender a imensidade do seu amor. Jesus está consciente de sua vida e sua
missão. Está preparado a dar a
vida para que tenhamos vida em abundância.
O objetivo
de João é alimentar a fé dos discípulos e iluminá-los sobre o sentido
misterioso do que aconteceu. Jesus era a "Luz", mas os homens amaram
mais as trevas do que a "Luz", por isso o rejeitaram e condenaram. Vamos retomar alguns fatos e personagens para
vivenciar mais intensamente esse drama Sagrado.
O BEIJO DE
JUDAS: Um sinal de amor,
transformado em gesto de maldade. Procura traduzir com os lábios, o que não
deseja o coração.
O PERFUME
DE MADALENA: Este perfume derramado aos pés do Mestre demonstra que amar era aquilo que ela
desejava e pecar era aquilo que ela não queria. No lavar os pés de Jesus, ela
manifesta que desejava lavar também a alma do pecado, de entregar seu corpo a
quem o desejasse. Como Judas, também ela beijou o Cristo. Só que Judas o beijou
para traí-lo e ela, para se libertar de sua vida de traição. Judas o beijou,
porque queria vendê-lo e ela o beija, porque estava cansada de ser vendida.
A BACIA DE
PILATOS foi usada como
símbolo da covardia. E os séculos nela reconhecem o sinal acabado da omissão.
Por não ter coragem suficiente, omitiu-se o procurador romano, permitindo que
Cristo fosse condenado, ainda que nele não visse nenhum mal. Bacia de Pilatos e
bacia de Jesus no lava-pés! Duas bacias
bem diferentes!
A
sepultura de José de Arimateia
Por causa
desse homem rico, mas de profunda sensibilidade, Cristo não é lançado em uma vala
comum e passa a ter direito a uma sepultura. Para nascer, Jesus não encontra um
berço. Para descansar na morte, lhe é ofertado um túmulo. Muitos só são
lembrados quando morrem!...
CONCLUI a
narrativa com a imagem da festa das núpcias: a comunidade abraça seu esposo e
mostra ter entendido quanto foi amado por ele. Começa assim no Calvário a festa
das núpcias que terá sua realização plena no céu. É a conclusão da história de
amor entre Deus e o homem.
Pistas
de reflexão sobre o sentido da Paixão
Quando refletimos sobre a figura do Servo
sofredor pensamos em Jesus que foi capaz de assumir a causa do Pai até dar a
própria vida porque tem uma única paixão: fazer sempre e em tudo a vontade do
Pai. Assim é Deus: apaixonado pelo ser humano e só deseja que ele seja feliz.
É
dia de nos aproximarmos confiantes do trono da graça do Senhor.
Luis Filipe Dias |
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