Introdução
Nas leituras deste domingo há um convite explícito
para a celebração e para a reconciliação. Neste convite, está implícita a
necessidade de mudarmos a nossa visão conceitos sobre Deus e, consequentemente,
nossa relação com Ele. Somente à luz deste novo olhar para Deus é que se poderá
compreender o modo pelo qual Ele atua na história.
I Leitura (Josué 5, 9.10-12): Reconciliados com Deus
A celebração da Páscoa na terra prometida é
a renovação da aliança e reinaugura o processo histórico salvífico para o povo
de Deus que saiu da terra do Egito pela força de Deus.
O texto enfatiza uma nova etapa na vida e na
história de Israel que implica uma ruptura com a desobediência no deserto –
experiência de pecado. A celebração da Páscoa atualiza, ritualmente, a
libertação da escravidão (páscoa-passagem), mas também serve para fazer memória
da história, aprender com os erros e solidificar a fidelidade a Deus na aliança.
Já de posse da terra, o povo deixa de comer
o maná (dom de Deus) e começa a comer os frutos da terra que também são sinal
da bondade de Deus para com o seu povo.
Os hebreus estavam na terra da qual Deus
havia dito que manava leite e mel, e a palavra de Deus se cumpriu, pois agora
os frutos da terra saciam o povo e já podem viver com dignidade.
II Leitura (2Cor
5,17-21): somos embaixadores de Cristo
Paulo declara enfaticamente que a
perspectiva da qual o cristão vê todas as coisas deve ser a mesma de Jesus.
Os vv. 17-19 salientam que em Cristo todas
as coisas são velhas e agora tudo é novo, e isso ocorre por causa da graça de
Deus, que reconciliou o mundo consigo.
Estar “em Cristo” (v.17a) representa uma
relação íntima e Paulo a quer expressar com o termo “nova criatura” (v.17b).
Por Cristo, Deus criou uma nova humanidade; tudo vem de Deus, Ele é o autor da
salvação. O impacto da obra redentora de Deus é a reconciliação (v.18). A
reconciliação não é obra nossa, mas é obra de Deus (v.20). O evangelho é boa
notícia, a reconciliação realizada por Deus merece ser proclamada a toda a
humanidade.
Paulo nos leva ao ápice do ministério
cristão com a declaração de que “somos embaixadores de Cristo” (v.20). O papel
do embaixador é singular porque está credenciado pela autoridade que o enviou.
Deus nos delega como embaixadores para a obra da reconciliação.
Evangelho (Lc
15,1-3.11-32): Celebrar o retorno à casa do Pai
Aqui se encontra o coração do evangelho da
misericórdia; Deus (pai) sai em busca do perdido e se alegra com o seu regresso
ainda antes dele voltar.
Os vv. 1-3 são apenas uma introdução
justificativa das parábolas da misericórdia.
O texto se divide em duas partes: o filho
mais jovem (15,11-24) e o filho mais velho (15,25-32). Estas duas cenas são
unidas pela ação do pai, o verdadeiro protagonista do relato. O ponto central é
o encontro com o pai, comentado pelo refrão que sela toda a cena: “Este meu
filho estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado” (15,24).
Os vv. 11-16 narram a situação do filho mais
novo que decide partir em busca daquilo que parece ser a sua liberdade interior.
Os vv. 17-21 narram o processo do desejo de
regressar a casa para fazer a experiência do perdão porque caiu bem no fundo do
poço e porque se lembra da bondade do pai.
Nos vv. 25-32 entra em cena o filho mais
velho que se ressente da relação do pai com o filho mais jovem. O papel do pai
é reconciliar estes dois irmãos para se sentarem à mesa da fraternidade sem
reclamações. A fraternidade está ao alcance de todos.
A narrativa termina com um convite para
celebrar o retorno do pecador arrependido. Jesus mostra que o Pai sai em busca
dos perdidos e festeja porque o seu coração está cheio de vida.
Neste Ano da Misericórdia em que somos
convidados a fazer a experiência do perdão e da reconciliação, aproveitamos as
oportunidades que Deus coloca no nosso caminho.
“É necessário, filho, que te alegres: teu
irmão estava morto, e reviveu, perdido, e foi achado” (15,32)
Notas soltas
Neste IV Domingo da Quaresma, se podem usar
ornamentos de cor rosa. A cor rosa nos
ornamentos litúrgicos, é próprio dos domingos de "Gaudete" (o terceiro
domingo de advento) e "Laetare" (o quarto domingo da Quaresma), que
servem para lembrar aos penitentes sobre a proximidade do Natal e da Páscoa, e
por conseguinte a cessação da penitência e do jejum.
O
nome "Laetare" vem da antífona de entrada e significa "
Alegra-te " e expressa que já falta pouco para chegar ao feliz tempo da
ressurreição. Daí o emprego da cor rosa, que é símbolo de alegria, embora seja
de uma alegria efémera, própria só de certas ocasiões.
Acolhendo
os apelos de conversão da Quaresma e da Palavra de Deus, a nossa celebração
será sempre um verdadeiro banquete para celebrar na alegria à volta ao Pai e à
comunidade dos filhos pródigos que estavam perdidos, mas que voltaram à vida
pela Bondade de Deus e pela Acolhida dos irmãos.
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