sábado, 4 de agosto de 2018

Dia do Padre: “Senhor dá-nos sempre deste pão”. (05/08/2018)


Vale a pena meditar nas palavras do Papa Francisco: “Jesus não elimina de modo algum a nossa preocupação, nem a busca do alimento diário, não, Ele não elimina a preocupação de tudo o que pode tornar a vida mais progredida. Mas Jesus recorda-nos que o verdadeiro significado da nossa existência terrena consiste no fim, na eternidade, consiste no encontro com Ele, que é dom e doador, e recorda-nos também que a história humana com os seus sofrimentos e as suas alegrias deve ser considerada num horizonte de eternidade, ou seja, no horizonte do encontro definitivo com Ele. E este encontro ilumina assim todos os dias da nossa vida e da nossa existência.”

Breve comentário às leituras do dia
O entusiasmo da multidão depois da multiplicação dos pães e dos peixes é enorme. Jesus, sabendo que eles vinham ter com ele para o fazerem rei, retirou-se para o monte. Durante a noite atravessou o lago, a pé, indo ter com os discípulos que lutavam com a tempestade.

Só de manhã é que a multidão dá conta da ausência de Jesus, mas não desanima e vai à sua procura. Aquela gente não entendeu o sentido profundo do gesto realizado por Jesus, pensando somente no sentido material: Jesus poderia resolver os seus problemas imediatos de maneira fácil e sem custos. As pessoas procuram pão e vida, mas somente para o corpo. É isto que Jesus denuncia duma forma dura que as traduções procuram amenizar: “Vós procurais-me, não por terdes visto sinais (ver os sinais do vinho no capitulo 2,1-12 e do pão em João 6,1-15), mas porque comestes pão e vos saciastes.” Na verdade, o verbo traduzido por saciar é o verbo grego chortázô que deriva da palavra chórtos, “palha, feno”. Jesus acusou aquela gente de só se preocupar em comer como os animais.

Em linguagem dura diríamos hoje “encher a pança”, “comer como uma besta”.
Por isso, as pessoas não conseguem ver mais além, não entendem os sinais. 

Este encontro com a multidão dá-se na sinagoga de Cafarnaum. Jesus aponta para algo superior, fazendo o discurso do Pão da Vida, que começamos a ler neste domingo e se prolongará por mais quatro domingos.

A primeira exigência feita por Jesus àqueles que procuram um alimento que perdura até à vida eterna é uma adesão incondicional à pessoa dele e ao seu projeto. Porém a multidão exige uma prova concreta para esta adesão, o que naturalmente provoca a comparação com a figura de Moisés e com o maná do deserto. Jesus tinha alimentado cinco mil pessoas, mas Moisés, com o maná, alimentou todo um povo durante quarenta anos!

A palavra maná deriva da pergunta feita pelos hebreus perante o que viam: “que é isto?”, (em hebraico man-hû). Trata-se do maná lecanora, que se encontra desde o Irã até ao Norte de África, portanto também no norte da Península sinaítica, que é granuloso e aguado, do tamanho da semente do coentro (= cerca de 5 mm de diâmetro), de cor branca, e tem sabor a mel (Ex 16,31).

É uma secreção produzida pelo tamarisco, chamado tamarix gallica ou tamarix-mannifera, após a picada dum determinado inseto. Os pequeninos grãos, em jeito de gotas de orvalho “caídas do céu”, colhidos de manhã cedo podiam ser moídos dando uma farinha com a qual se podia fazer pão com sabor a mel. Jesus corrige os seus ouvintes de forma pedagógica. Não foi Moisés quem alimentou o povo no deserto, mas sim o Pai.

E é o mesmo Pai quem dará o verdadeiro Pão do Céu. E Jesus não é alguém que vem trazer pão: Ele é o verdadeiro Pão da Vida. Jesus procura ajudar as pessoas a libertarem-se dos esquemas do passado a que estavam agarrados os seus ouvintes. Para ele, a fidelidade ao passado não significa encerrar-se nas coisas antigas e não aceitar a renovação. Fidelidade ao passado quer dizer aceitar a novidade que vem como fruto da semente plantada no passado. Os mestres judeus acreditavam e ensinavam que havia no céu um resto de maná que desceria do céu quando viesse o Messias. Numa palavra, o Messias é o Pão do Céu que dá a vida. Daí a primeira grande afirmação de Jesus: “Eu sou o Pão da Vida”.

Para nós que vivemos tão ocupados e preocupados, envolvidos com mil coisas, atordoados e sobrecarregados, Jesus no evangelho deste domingo nos ensina que não devemos trabalhar por qualquer coisa; que não busquemos apenas o alimento que nutre a vida que perece, mas aquele que mantém a perspectiva de um horizonte que aponta para a vida eterna.
Luis Filipe Dias



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