sábado, 30 de julho de 2016

Com os celeiros vazios, mas com os corações cheios de amor e de paz (31/07/2016)

  Neste domingo Jesus nos convida a refletir sobre o que buscamos para nossa vida, vivemos em um mundo onde o consumismo fala mais alto do que a caridade, mas sabemos que saindo desta vida não levamos nada deste mundo, de nada adianta ter muito dinheiro e bens se vivemos longe da vivencia da fé e dos ensinamentos de Jesus, deste modo todo o nosso trabalho será em vão, será meramente por vaidade. Abandonando este corpo material de que valerá toda a vaidade?
  O livro do Eclesiastes (Ecl 1,2;2,21-23.) vem nos dizer: “‘Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, vaidade das vaidades! Tudo é vaidade’. Por exemplo: um homem que trabalhou com inteligência, competência e sucesso, vê-se obrigado a deixar tudo em herança a outro que em nada colaborou. Também isso é vaidade e grande desgraça. De fato, que resta ao homem de todos os trabalhos e preocupações que o desgastam debaixo do sol? Toda a sua vida é sofrimento, sua ocupação, um tormento. Nem mesmo de noite repousa o seu coração. Também isso é vaidade”.
  A primeira leitura nos mostra que sem Deus todo nosso trabalho é em vão, de nada vale trabalharmos arduamente para adquirir, construir e acumular, se em nossas vidas não experimentarmos o amor de Deus. O que iremos deixar para as gerações futuras? Mais do que deixar bens que serão motivos de discórdias entre nossos descendentes, devemos deixar um legado de vivencia da fé, do amor e da caridade, uma vida pautada em testemunhos de homens e mulheres tementes a Deus servindo de exemplos para as novas gerações, para que elas possam transformar este mundo pelo amor, pela fé e pela misericórdia, este é o compromisso de nossas vidas.
  Em sua carta aos Colossenses (Cl 3,1-5.9-11.) o apóstolo Paulo exorta: “Irmãos: Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. Pois vós morrestes, e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória. Portanto, fazei morrer o que em vós pertence à terra: imoralidade, impureza, paixão, maus desejos e a cobiça, que é idolatria. Não mintais uns aos outros. Já vos despojastes do homem velho e da sua maneira de agir e vos revestistes do homem novo, que se renova segundo a imagem do seu Criador, em ordem ao conhecimento. Aí não se faz distinção entre judeu e grego, circunciso e incircunciso, inculto, selvagem, escravo e livre, mas Cristo é tudo em todos”.
  Paulo nos fala que depois de experimentarmos a vida que há em Jesus ressuscitado, não podemos mais nos perder em meio as seduções do mundo, ressurgidos em Cristo devemos buscar as coisas do alto, ir ao encontro dos bens que não perecem, assumindo com ele a missão solidificada no amor e na fé, vivendo a caridade, ajudando a quem precisa e lutando para transformar o mundo em um lugar onde todos os filhos de Deus possam ter voz e vez. Buscar as coisas do alto é se espelhar no exemplo de Jesus, é acreditar na missão e se colocar a serviço, não há nenhuma realidade que não possa ser mudada, Saulo de perseguidor e assassino de cristãos passou a ser Paulo um dos mais importantes apóstolos, responsável em levar o evangelho além das fronteiras e para aos mais diversos povos, certamente ele buscou e encontrou as coisas do alto, servindo-nos de um grande exemplo para a nossa missão.
  No evangelho (Lc 12,13-21.) Jesus nos diz: “Naquele tempo, alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: ‘Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo’. Jesus respondeu: ‘Homem, quem me encarregou de julgar ou de dividir vossos bens?’ E disse-lhes: ‘Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens’. E contou-lhes uma parábola: ‘A terra de um homem rico deu uma grande colheita. Ele pensava consigo mesmo: ‘O que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita’. Então resolveu: ‘Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e fazer maiores; neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!’ Mas Deus lhe disse: ‘Louco! Ainda esta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?’ Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus’”.
  O evangelista Lucas nos mostra Jesus nos alertando para termos cuidado com a ganância, e por meio de parábola nos mostra que de nada adianta acumular bens nesta terra e a qualquer momento possamos deixar esta vida sem nada levar conosco. Vemos que todos os anos o mundo produz milhões de toneladas de alimentos e neste mesmo mundo milhões de pessoas passam fome, um mundo onde as corrupções ativa e passiva movimenta quantias absurdas de dinheiro e o povo vivendo em condições precárias, sem habitação, sem educação, sem segurança e sem dignidade, nós como cristãos devemos fazer a diferença e estamos falando de um país de maioria cristã, católicos e protestantes todos seguidores de Jesus Cristo, em nosso país a história deveria ser diferente.
  Que a palavra de Deus nos inspire neste dia para que possamos verdadeiramente ser seguidores de Cristo, colocando de lado toda a vaidade e como Paulo buscando as coisas do alto, sendo sinais de esperança e de fé, fazendo a diferença neste mundo, ajudando a quem precisa e lutando por mais justiça, saúde, educação, trabalho e moradia de qualidade para todos. Vamos esvaziar os celeiros das nossas vidas para encher os corações de amor e de paz, mais do que ser sinais, Cristo que usar as nossas mãos para construir um mundo mais justo e fraterno. Então mãos a obra.
Rubens Corrêa

domingo, 24 de julho de 2016

Venha o teu Reino de amor e de Paz para todos os seus filhos (24/07/2016)

   Neste domingo aprendemos com Jesus o poder da oração, ele nos diz que precisamos deste contanto direto com Deus que é Pai de bondade e que ao suplicarmos seremos atendidos, ele não cessa de interceder por nós como fez Abraão intercedendo pela vida dos moradores das cidades de Sodoma e Gomorra, precisamos confiar mais no amor de Pai e transformar as nossas vidas para que seja um canal de graça para o mundo.
   Na primeira Leitura (Gn 18,20-32.) Deus fala a Abraão que as cidades de Sodoma e Gomorra irão perecer por causa dos seus pecados, mas Abraão insistentemente clama pela misericórdia do Senhor: “Vais realmente exterminar o justo com o ímpio? Se houvesse cinquenta justos na cidade, acaso irias exterminá-los? Não pouparias o lugar por causa dos cinquenta justos que ali vivem? Longe de ti agir assim, fazendo morrer o justo com o ímpio, como se o justo fosse igual ao ímpio. Longe de ti! O juiz de toda a terra não faria justiça?” O Senhor diz que não os exterminaria se houvesse cinquenta justos, Abraão porém se beneficia da paciência de Deus e intercede várias vezes até chegar ao número de dez, e Deus diz que se encontrasse aqueles dez justos não destruiria as cidades.
   Abraão confiou na misericórdia de Deus e intercedeu por aquelas pessoas. E nós estamos intercedendo ou amaldiçoando os que se encontram maculados pelo pecado? Muitas vezes nos antecipamos e fazemos pesar a mão de Deus em cima daqueles que julgamos perdidos e certamente fazemos isso ocultando os nossos próprios erros, nos colocamos como santo juiz de inquisição, precisamos abandonar a toga do julgamento precipitado e vestir o manto da misericórdia, mostrar para o mundo que ainda existe salvação para aqueles que estão manchados pelo pecado, mas para isso se faz necessário uma profunda transformação de vida e nossas vidas devem ser exemplos para aqueles que buscam o caminho da salvação.
   Em sua carta aos Colossenses (Cl 2,12-14.) o apóstolo Paulo nos diz, “Irmãos: Com Cristo fostes sepultados no batismo; com ele também fostes ressuscitados por meio da fé no poder de Deus, que ressuscitou a Cristo dentre os mortos. Ora, vós estáveis mortos por causa dos vossos pecados, e vossos corpos não tinham recebido a circuncisão, até que Deus vos trouxe para a vida, junto com Cristo, e a todos nós perdoou os pecados. Existia contra nós uma conta a ser paga, mas ele a cancelou, apesar das obrigações legais, e a eliminou, pregando-a na cruz”.
   Com sua entrega na Cruz, Jesus nos libertou do pecado, pagando com seu sangue a conta das nossas transgressões, com ele também devemos ressurgir para uma vida nova, sua ressurreição nos convida a pautar nossas vidas na misericórdia, no amor ao próximo e no comprometimento com a causa dos que mais sofrem, não podemos ficar indiferente aos sofrimentos de milhares de irmãos no mundo inteiro que sofrem com a fome, com a violência, com as guerras, com as drogas, com a ganancia e com a corrupção, renascidos em Cristo devemos combater tudo que impede que o Reino de Deus aconteça aqui na terra, nisso Paulo foi um grande exemplo.
   No evangelho (Lc 11,1-13.) vemos que os discípulos pedem que Jesus os ensine a rezar e ele os respondeu: “Quando rezardes, dizei: ‘Pai, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Dá-nos a cada dia o pão de que precisamos, e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos os nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação’”. Ele também falou que se no meio da noite alguém nos chamar para pedir três pães emprestados porque chegaram algumas visitas inesperadas e que não tem nada para oferecer, iremos dar aquilo que ele pediu, mesmo que não fazendo pela amizade, faremos pela impertinência. Quem pede, recebe, quem procura, encontra e quem bate, a porta será aberta. “Será que algum de vós, que é pai, se o filho lhe pedir um peixe, lhe dará uma cobra? Ou ainda, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!”
   Jesus nos mostra que se alguém que é mau consegue fazer o bem, imagine Deus que é Pai de amor, o que precisamos é de nos comunicar com ele, suplicar as suas bênçãos sobre a nossa vida e sobre as nossas famílias, Cristo nos mostra o caminho, ensina uma oração onde o Pai é nosso, sendo assim reconhecemos os outros como nosso irmão. Onde o pão é nosso. E como admitir que com tanta fartura em nosso mundo alguém possa sofrer com a fome? Pedimos a Deus insistentemente que nos perdoe e muitas vezes somos incapazes de perdoar a quem nos feriu, como pedir ao Pai que nos livre das tentações se em nosso dia-a-dia nos encontramos em meio aos vícios, prostituições e atos que mancham as nossas mãos e a nossa imagem. Rezar o Pai Nosso é muito mais do que pronunciar muitas palavras de ordens decoradas, é se comprometer para que venha aqui na terra o Reino de Deus e isso se faz com uma profunda transformação em nossas vidas, estas simples palavras tem um sentido mais amplo do que imaginamos e um poder que muitas vezes desconhecemos.
   Que neste dia possamos acreditar que como Abraão podemos interceder incansavelmente em favor de quem está perdido pelo pecado e que somos chamados a testemunhar um grande amor de Pai que Deus tem por cada filho, sejam eles fiéis ou infiéis, por Jesus Cristo fomos libertos do pecado para uma vida nova e esta vida nova deve ser vivida em um mundo novo, onde cada filho de Deus tenha a dignidade de viver como tal, sem fome, sem guerras, sem violência, sem prostituição, sem drogas e sem corrupção, um Reino de Deus já aqui na terra, esta é a nossa missão e juntos podemos realizar, Jesus está conosco.
Rubens Corrêa

sábado, 16 de julho de 2016

“Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada” (17/07/2016)

   Neste domingo Jesus nos convida a cessar um pouco da nossa correria do dia-a-dia e nos colocar como Maria aos seus pés para escutarmos o que ele tem a nos dizer, vivemos em um mundo muito acelerado onde tudo é intenso e muito rápido, muitas vezes reclamamos que os nossos afazeres nos prendem e que não nos sobra tempo para nada, constantemente isso nos serve de desculpas para as negligencias da nossa vida religiosa. Abraão avistou aqueles homens e não deixou que a graça de Deus passasse direto, suplicou que eles parassem, se colocou a servi-los e foi agraciado por Deus, que possamos também nos colocar a serviço do Reino de Deus sem nunca deixar de ouvir o que Jesus quer nos dizer, não podemos perder a melhor parte.
   Na primeira leitura (Gn 18,1-10a.) vemos como Deus se manifesta na vida de Abraão: “Naqueles dias, o Senhor apareceu a Abraão junto ao carvalho de Mambré, quando ele estava sentado à entrada de sua tenda, no maior calor do dia. Levantando os olhos, Abraão viu três homens de pé, perto dele. Assim que os viu, correu ao seu encontro e prostrou-se por terra. E disse: ‘Meu Senhor, se ganhei tua amizade, peço-te que não prossigas viagem, sem parar junto a mim, teu servo. Mandarei trazer um pouco de água para vos lavar os pés, e descansareis debaixo da árvore. Farei servir um pouco de pão para refazerdes vossas forças, antes de continuar a viagem. Pois foi para isso mesmo que vos aproximastes do vosso servo’. Eles responderam: ‘Faze como disseste’. Abraão entrou logo na tenda, onde estava Sara, e lhe disse: ‘Toma depressa três medidas da mais fina farinha, amassa alguns pães e assa-os’. Depois, Abraão correu até o rebanho, pegou um bezerro dos mais tenros e melhores, e deu-o a um criado, para que o preparasse sem demora. A seguir, foi buscar coalhada, leite e o bezerro assado, e pôs tudo diante deles. Abraão, porém, permaneceu de pé, junto deles, debaixo da árvore, enquanto comiam. E eles lhe perguntaram: ‘Onde está Sara, tua mulher?’ ‘Está na tenda’, respondeu ele. E um deles disse: ‘Voltarei, sem falta, no ano que vem, por este tempo, e Sara, tua mulher, já terá um filho’”.
   Abraão um ancião que deixou a casa de seu pai acreditando na promessa de um Deus até então desconhecido, de longe avistou a graça de Deus se aproximando e não perdeu tempo, pediu para que eles permanecessem um pouco para descansar da viajem e se colocou a servi-los com tudo que tinha de melhor, da boca destes homens ouviu aquilo que seria um alivio da sua angustia, Sara sua mulher terá um filho e a promessa de uma descendência se cumpriria. Muitas vezes vivemos pedindo a Deus que venha nos tirar a dor e a angustia que sentimos, mas não nos colocamos de prontidão para receber a graça de Deus, vivemos reclamando constantemente e deixamos que esta benção passe por nós sem que sequer a notamos, que possamos a cada dia oferecer a Deus que temos de melhor e certamente veremos o quanto a nossa vida será transformada.
   Escrevendo aos Colossenses (Cl 1,24-28.) Paulo também diz para nós: “Irmãos: Alegro-me de tudo o que já sofri por vós e procuro completar em minha própria carne o que falta das tribulações de Cristo, em solidariedade com o seu corpo, isto é, a Igreja. A ela eu sirvo, exercendo o cargo que Deus me confiou de vos transmitir a palavra de Deus em sua plenitude: o mistério escondido por séculos e gerações, mas agora revelado aos seus santos. A estes Deus quis manifestar como é rico e glorioso entre as nações este mistério: a presença de Cristo em vós, a esperança da glória. Nós o anunciamos, admoestando a todos e ensinando a todos, com toda a sabedoria, para a todos tornar perfeitos em sua união com Cristo”.
   Paulo nos mostra que servir a Deus não é tarefa fácil, mas demonstra grande alegria de estar a serviço da palavra de Deus mesmo em meio a tantas tribulações, ele se espelhava na dor e na entrega de Cristo que morreu para que todos nós tivéssemos vida plena, e Paulo também seguiu os passos do mestre dando a sua vida para que a palavra de Deus pudesse chegar aos confins da terra. Hoje somos nós os responsáveis em levar a palavra de Deus em todo lugar, esta tarefa tão importante deve começa em nosso lar para que a nossa família seja um canal de graça para outras famílias, não adianta tentarmos fazer coisas maravilhosas longe e deixar que o nosso lar se desmorone, famílias fortes na fé em Cristo ressuscitado anunciam com seus exemplos e com suas palavras a esperança, o amor e a misericórdia de Deus ao mundo.
   No evangelho (Lc 10,38-42.) Jesus nos chama a escolher a melhor parte: “Naquele tempo, Jesus entrou num povoado, e certa mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa. Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor, e escutava a sua palavra. Marta, porém, estava ocupada com muitos afazeres. Ela aproximou-se e disse: ‘Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha, com todo o serviço? Manda que ela me venha ajudar!’ O Senhor, porém, lhe respondeu: ‘Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada’”.
   O evangelista Lucas nos mostra Jesus que é recebido pelas irmãs Marta e Maria, mas elas têm atitudes diferentes, uma se preocupa com os afazeres da casa para deixar tudo perfeito para que o hospede tivesse o maior conforto e satisfação, a outra se coloca aos pés de Jesus para escutar o que ele tem a dizer, em um dado momento Marta cobra de Jesus uma posição quanto a sua irmã deixa-la fazer tudo sozinha, de Jesus vem uma resposta para Marta e para todos nós: “Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária”, vivemos correndo demais e nos esquecemos do que realmente é importante para nossa vida e muitas vezes nos incomodamos com os outros que não vivem no mesmo ritmo que nós, seja em casa, na igreja, no trabalho e na sociedade.
   Jesus nos diz: “Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada”, precisamos a cada dia buscar uma experiência com Jesus, sentar aos seus pés e ouvir atentamente o que ele quer nos dizer, escutar da sua boca aquilo que a correria da nossa vida não nos permite, só assim teremos condições de nos colocar a serviço do Reino de Deus, pois saberemos distinguir aquilo que realmente é essencial para seguir a Jesus e ele nos mostra que o cuidado com as pessoas está acima das instituições, é este o caminho e o Papa Francisco tem com frequência tentado reafirmar este compromisso da igreja com aqueles que mais sofrem, isto é seguir os passos do mestre como fez Paulo, é confiar como Abraão confiou na promessa de Deus e se colocar aos seus pés escutando a sua palavra e escolhendo a melhor parte como fez Maria.
Rubens Corrêa

domingo, 10 de julho de 2016

“Vai e faze a mesma coisa” (10/07/2016)

   Neste domingo Jesus nos convida a meditar o quanto estamos comprometidos com o reino de Deus, muitas vezes colocamos inúmeros obstáculos para servir ao Senhor, esperamos que os outros façam aquilo que devemos fazer, achamos que o entendimento da palavra é algo que está distantes de nós, mas Cristo nos revela Deus em sua plenitude e quanto ele é misericordioso conosco, devemos acreditar que a palavra de Deus habita em nós e que não podemos omiti-la, neste mundo há muitas pessoas caídas pelo caminho da nossa vida e somos nós que devemos com misericórdia devolver-lhes a dignidade, somos o amor de Deus para este mundo.  
   Na primeira leitura (Dt 30,10-14.) vemos que: “Moisés falou ao povo, dizendo: Ouve a voz do Senhor, teu Deus, e observa todos os seus mandamentos e preceitos, que estão escritos nesta lei. Converte-te para o Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma. Na verdade, este mandamento que hoje te dou não é difícil demais, nem está fora do teu alcance. Não está no céu, para que possas dizer: ‘Quem subirá ao céu por nós para apanhá-lo? Quem no-lo ensinará para que o possamos cumprir?’ Nem está do outro lado do mar, para que possas alegar: ‘Quem atravessará o mar por nós para apanhá-lo? Quem no-lo ensinará para que o possamos cumprir?’ Ao contrário, esta palavra está ao teu alcance, está em tua boca e em teu coração, para que a possas cumprir”.
   Moisés nos mostra o quanto acessível para nós está à palavra de Deus, não temos nenhuma desculpa ou impedimento para acessá-la e praticá-la, não devemos esperar que os outros nos revele esta palavra, ela está em nossa boca e em nosso coração, somos nós que devemos proclamá-la e anunciá-la com a nossa voz e com a nossa atitude, Deus conta conosco para levar a sua mensagem até os confins da Terra.
   Em sua carta aos Colossenses (Cl 1,15-20.) Paulo nos diz: “Cristo é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, pois, por causa dele, foram criadas todas as coisas, no céu e na terra, as visíveis e as invisíveis, tronos e dominações, soberanias e poderes. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele existe antes de todas as coisas e todas têm nele a sua consistência. Ele é a Cabeça do corpo, isto é, da Igreja. Ele é o Princípio, o Primogênito dentre os mortos; de sorte que em tudo ele tem a primazia, porque Deus quis habitar nele com toda a sua plenitude e por ele reconciliar consigo todos os seres, os que estão na terra e no céu, realizando a paz pelo sangue da sua cruz”.
   Paulo nos mostra que em Cristo Deus se revela ao mundo, ele é a razão de todas as coisas, nele tudo foi criado e é preciso que deixemos que ele habite em nós assim como Deus habitou nele, com isso assumimos um compromisso de anunciar ao mundo sedento de amor e de paz que nele encontramos a vida, pelo seu sangue derramado na cruz o mundo pode encontrar o caminho da paz que nos leva a uma vida plena.
   Evangelho (Lc 10,25-37.) “Naquele tempo, um mestre da Lei se levantou e, querendo pôr Jesus em dificuldade, perguntou: ‘Mestre, que devo fazer para receber em herança a vida eterna?’ Jesus lhe disse: ‘O que está escrito na Lei? Como lês?’ Ele então respondeu: ‘Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e ao teu próximo como a ti mesmo!’ Jesus lhe disse: ‘Tu respondeste corretamente. Faze isso e viverás’. Ele, porém, querendo justificar-se, disse a Jesus: ‘E quem é o meu próximo?’ Jesus respondeu: ‘Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu na mão de assaltantes. Estes arrancaram-lhe tudo, espancaram-no, e foram-se embora, deixando-o quase morto. Por acaso, um sacerdote estava descendo por aquele caminho. Quando viu o homem, seguiu adiante, pelo outro lado. O mesmo aconteceu com um levita: chegou ao lugar, viu o homem e seguiu adiante, pelo outro lado. Mas um samaritano, que estava viajando, chegou perto dele, viu e sentiu compaixão. Aproximou-se dele e fez curativos, derramando óleo e vinho nas feridas. Depois colocou o homem em seu próprio animal e levou-o a uma pensão, onde cuidou dele. No dia seguinte, pegou duas moedas de prata e entregou-as ao dono da pensão, recomendando: Toma conta dele! Quando eu voltar, vou pagar o que tiveres gasto a mais’. E Jesus perguntou: ‘Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?’ Ele respondeu: ‘Aquele que usou de misericórdia para com ele’. Então Jesus lhe disse: ‘Vai e faze a mesma coisa’”.
   Jesus usa da parábola do bom samaritano para nos ensinar que não basta conhecer a palavra e se alegrar com ela, é preciso praticá-la, torná-la viva no meio de nós, vimos que o homem caído à beira do caminho vítima de assalto poderia ter sido socorrido pelo sacerdote ou pelo levita que passaram antes do samaritano, mas todos passaram a diante sem socorrer aquele necessitava, nós muitas vezes fazemos o mesmo, seja por medo, por fazer algum juízo errado da pessoa, por estar atrasado para algum compromisso ou até mesmo para chegar logo a igreja, sei que por diversas desculpas deixamos o irmão caído necessitando de ajuda.
   Vale lembrar que para os judeus os samaritanos eram considerados indignos, e Jesus usa desta figura para ilustrar que não há limites para a misericórdia, ao chegar perto do homem caído ele não perguntou se ele era de Jerusalém ou da Samaria, ele olhou para a situação que a pessoa estava e teve compaixão, ajudou sem esperar que fosse retribuído ou que fosse reconhecido pela sua bondade, simplesmente fez o que o outro precisava.
   Como seria bom que o mundo fosse assim? E nós estamos fazendo a nossa parte? Jesus nos mostra que a construção de um mundo novo depende de nós, com pequenas ações do dia-a-dia podemos juntos realizar grandes transformações para nossa sociedade, para isso é necessário que deixemos as desculpas de lado e que assumamos a parte que nos cabe desta missão, não é outro que deve fazê-la pois a palavra de Deus está em nossa boca e em nosso coração, acreditando nisso podemos mostra o amor de Deus para o mundo, Jesus nos mostra o caminho e nos diz: “Vai e faze a mesma coisa”. Então saia da sua zona de conforto e se coloque a serviço, Jesus nos espera na eternidade.
Rubens Corrêa

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Solenidade de São Pedro e São Paulo (03/07/2016)

   Nota Explicativa
   A solenidade de São Pedro e de São Paulo é uma das mais antigas da Igreja, sendo anterior até mesmo à comemoração do Natal. Depois da Virgem Santíssima e de São João Batista, Pedro e Paulo são os santos que têm mais datas comemorativas no ano litúrgico. Além do tradicional 29 de junho na maioria dos lugares, há ainda 25 de janeiro, quando celebramos a Conversão de São Paulo; 22 de fevereiro, temos a festa da Cátedra de São Pedro e 18 de novembro, reservado à Dedicação das Basílicas de São Pedro e São Paulo. O martírio de ambos deve ter ocorrido em ocasiões diferentes: São Pedro, crucificado de cabeça para baixo na Colina Vaticana em 64, e São Paulo decapitado na chamada “Três Fontes” em 67. Mas não há certeza quanto ao ano desses martírios. São Pedro e São Paulo não fundaram Roma, mas são considerados os "Pais de Roma" e considerados os pilares que sustentam a Igreja tanto por sua fé e pregação, como pelo ardor e zelo missionários. São Pedro é o apóstolo que Jesus Cristo escolheu e investiu da dignidade de ser o primeiro Papa da Igreja. A ele Jesus disse: "Tu és Pedro e sobre esta pedra fundarei a minha Igreja". São Paulo é o maior missionário de todos os tempos, o advogado dos pagãos, o “Apóstolo dos gentios”.
   No Brasil, em homenagem a São Pedro, fogueiras são acesas, mastros são erguidos com a sua bandeira, fogos são queimados. São Pedro é caracterizado como protetor dos pescadores. A brincadeira do pau-de-sebo está em várias regiões, estando diretamente relacionada com a festividade deste santo.
   Os textos da Escritura para a solenidade que hoje celebramos põem em relevo, naturalmente, as duas grandes figuras de Apóstolos. O Evangelho é de Mateus 16,13-19, e põe em destaque a figura de Pedro. Também a passagem do Livro dos Atos 12,1-11 lhe é dedicada. O texto do final da segunda Carta a Timóteo 4,6-8.17-18 põe naturalmente em realce a figura de Paulo.
   I leitura: Atos 12,1-11 nos apresenta uma página assombrosa, que sai fora do estilo de Lucas, e se aproxima mais do estilo do evangelista Marcos. É para casa de Maria, mãe de João Marcos, que Pedro se dirige no episódio seguinte (Atos 12,12-17). Na página de hoje, Pedro é salvo miraculosamente pela intervenção do Anjo de Deus, do próprio Deus, portanto. São significativos os cinco imperativos que o Anjo dirige a Pedro: Levanta-te, cinge-te, calça as sandálias, cobre-te com o teu manto e segue-me! (Atos 12,8). Com o primeiro imperativo, caem das mãos de Pedro as correntes de ferro. Assim começa a liberdade! Passam depois, sem qualquer sobressalto, um após outro, dois postos da guarda, e abre-se automaticamente o portão de ferro que dava para fora (Atos 12,10). Quando Pedro cai em si, está numa viela de Jerusalém, e reconhece a mão de Deus nesta espetacular ação de libertação em que é libertado das mãos de Herodes (Atos 12,10-11). 
   O Salmo 33 (34) põe nos lábios dos pobres a bênção, que os une a Deus para sempre, e o louvor jubiloso e intenso, que é a sua verdadeira razão de viver (vv. 2-3). O pobre enche o olhar de Deus e fica radiante, luminoso (v. 6), sabe que Deus o escuta e o salva, e convida a saborear a bondade de Deus (v. 9). Ou talvez mais do que isso. Na versão grega deste v. 9, muito utilizado no momento da comunhão, também nas liturgias de rito bizantino, lê-se: “Saboreai e vede que Bom é o Senhor”.
   II leitura: Do final da 2 Carta a Timóteo 4,6-8.17-18, em que Paulo traça, por assim dizer, o seu testamento autobiográfico, recorrendo a três imagens. A primeira provém do culto, do rito de libação (2 Timóteo 4,6) que consiste em derramar um pouco de vinho ou de mosto (cerca de 1,5 litros) sobre o altar, onde será queimado juntamente com a oferenda, subindo o seu perfume para o alto, para Deus. Do mesmo modo, a inteira vida de Paulo foi uma incessante subida para o seu Senhor, nada retendo para si mesmo, cá em baixo. A segunda imagem provém do mundo militar. É o combate, que Paulo combateu a vida inteira, e que qualifica de “bom” (2 Timóteo 4,7). A terceira provém do mundo desportivo, concretamente do atletismo. “Completei a minha corrida” (2 Timóteo 4,7). Como o atleta sacrifica tudo para alcançar a vitória, também Paulo despendeu todas as suas energias para alcançar “a coroa da justiça” que o Senhor lhe dará no dia do juízo (2 Timóteo 4,8), e que é bem diferente da “coroa corruptível” que os atletas conquistam no estádio (1 Coríntios 9,25).
   Evangelho: Mateus 16,13-19 que nos falado episódio em Cesareia de Filipe, onde se encontra uma das nascentes do rio Jordão. Aí construiu Herodes um templo dedicado ao Imperador César Augusto, e o tetrarca Filipe, filho de Herodes, deu à cidade, antes conhecida por Pânias, em honra do deus Pã, o nome de Cesareia, também em honra de César Augusto. Dela resta hoje a gruta do deus Pã, lugar que os peregrinos da Terra Santa costumam visitar.
   É em Cesareia de Filipe, cidade marcada pelo paganismo, que Jesus põe a questão da sua identidade. Soberanamente Jesus pergunta: “Quem dizem as pessoas que é o Filho do Homem?” (Mt 16,13), para acrescentar logo de seguida, de forma direta e enfática: “E vós, quem dizeis que Eu sou?” (Mt 16,15).
   A esta pergunta, posta por Jesus aos seus discípulos que de há muito o seguiam, Simão Pedro foi rápido a responder: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo!” (Mt 16,16). Jesus declara Feliz Simão, filho de Jonas, não por achar que ele reunia competência humana para expressar aquele dizer, mas por saber que o tinha recebido do Pai (Mateus 16,17).
   Note-se bem que quem constrói a Igreja é Jesus, e não Pedro, e a Igreja a construir também é de Jesus, e não de Pedro: “sobre esta pedra construirei a minha Igreja”, diz Jesus. Em todo o Novo Testamento, só Jesus e Pedro recebem o apelativo de “pedra”. “Rocha”, “rochedo”, “pedra firme”. O Salmista diz: “O Senhor é a minha Rocha e a minha fortaleza , nele me abrigo, meu Rochedo, meu escudo e meu baluarte, minha torre forte e meu refúgio” (Salmo 18,3).
   Jesus declara de seguida: “Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus” (Mt 16,19). As chaves representam um saber e um poder. Falamos de chaves de uma casa, de uma cidade, de um tesouro. Vejamos o texto de Isaías 22,19-23, que fala do “rito das chaves” e do poder retirado a Shebna e conferido a Eliaqîm.
   As chaves do Reino dos Céus são as chaves do amor e do perdão, traves mestras de uma comunidade unida e confiante, com os pés na terra e o olhar fixo em Deus. Diz, na verdade, a Constituição Dogmática Lumen Gentium: “Aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo” (LG, 9).
   Podemos assim observar, Pedro é a Pedra e tem as Chaves do Reino dos Céus, e é-lhe ainda dada a autoridade de ligar-desligar, isto é, de perdoar: “Tudo o que ligares sobre a terra, ficará para sempre ligado nos Céus, e tudo o que desligares sobre a terra, ficará para sempre desligado nos Céus” (Mt 16,19). No Evangelho de Mateus, e só no Evangelho de Mateus, esta autoridade de ligar-desligar, isto é, de perdoar, é também confiada à inteira comunidade, exatamente nos mesmos termos em que é confiada a Pedro: “Em verdade vos digo: tudo o que ligardes sobre a terra, ficará para sempre ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra, ficará para sempre desligado no céu” (Mateus 18,18). É belo ver a inteira comunidade assente na Pedra, que é Pedro, como Pedro, com Pedro, não alijando responsabilidades, mas unida, reunida e operante na prática quotidiana do Perdão!
Luis Filipe Dias