sexta-feira, 1 de julho de 2016

Solenidade de São Pedro e São Paulo (03/07/2016)

   Nota Explicativa
   A solenidade de São Pedro e de São Paulo é uma das mais antigas da Igreja, sendo anterior até mesmo à comemoração do Natal. Depois da Virgem Santíssima e de São João Batista, Pedro e Paulo são os santos que têm mais datas comemorativas no ano litúrgico. Além do tradicional 29 de junho na maioria dos lugares, há ainda 25 de janeiro, quando celebramos a Conversão de São Paulo; 22 de fevereiro, temos a festa da Cátedra de São Pedro e 18 de novembro, reservado à Dedicação das Basílicas de São Pedro e São Paulo. O martírio de ambos deve ter ocorrido em ocasiões diferentes: São Pedro, crucificado de cabeça para baixo na Colina Vaticana em 64, e São Paulo decapitado na chamada “Três Fontes” em 67. Mas não há certeza quanto ao ano desses martírios. São Pedro e São Paulo não fundaram Roma, mas são considerados os "Pais de Roma" e considerados os pilares que sustentam a Igreja tanto por sua fé e pregação, como pelo ardor e zelo missionários. São Pedro é o apóstolo que Jesus Cristo escolheu e investiu da dignidade de ser o primeiro Papa da Igreja. A ele Jesus disse: "Tu és Pedro e sobre esta pedra fundarei a minha Igreja". São Paulo é o maior missionário de todos os tempos, o advogado dos pagãos, o “Apóstolo dos gentios”.
   No Brasil, em homenagem a São Pedro, fogueiras são acesas, mastros são erguidos com a sua bandeira, fogos são queimados. São Pedro é caracterizado como protetor dos pescadores. A brincadeira do pau-de-sebo está em várias regiões, estando diretamente relacionada com a festividade deste santo.
   Os textos da Escritura para a solenidade que hoje celebramos põem em relevo, naturalmente, as duas grandes figuras de Apóstolos. O Evangelho é de Mateus 16,13-19, e põe em destaque a figura de Pedro. Também a passagem do Livro dos Atos 12,1-11 lhe é dedicada. O texto do final da segunda Carta a Timóteo 4,6-8.17-18 põe naturalmente em realce a figura de Paulo.
   I leitura: Atos 12,1-11 nos apresenta uma página assombrosa, que sai fora do estilo de Lucas, e se aproxima mais do estilo do evangelista Marcos. É para casa de Maria, mãe de João Marcos, que Pedro se dirige no episódio seguinte (Atos 12,12-17). Na página de hoje, Pedro é salvo miraculosamente pela intervenção do Anjo de Deus, do próprio Deus, portanto. São significativos os cinco imperativos que o Anjo dirige a Pedro: Levanta-te, cinge-te, calça as sandálias, cobre-te com o teu manto e segue-me! (Atos 12,8). Com o primeiro imperativo, caem das mãos de Pedro as correntes de ferro. Assim começa a liberdade! Passam depois, sem qualquer sobressalto, um após outro, dois postos da guarda, e abre-se automaticamente o portão de ferro que dava para fora (Atos 12,10). Quando Pedro cai em si, está numa viela de Jerusalém, e reconhece a mão de Deus nesta espetacular ação de libertação em que é libertado das mãos de Herodes (Atos 12,10-11). 
   O Salmo 33 (34) põe nos lábios dos pobres a bênção, que os une a Deus para sempre, e o louvor jubiloso e intenso, que é a sua verdadeira razão de viver (vv. 2-3). O pobre enche o olhar de Deus e fica radiante, luminoso (v. 6), sabe que Deus o escuta e o salva, e convida a saborear a bondade de Deus (v. 9). Ou talvez mais do que isso. Na versão grega deste v. 9, muito utilizado no momento da comunhão, também nas liturgias de rito bizantino, lê-se: “Saboreai e vede que Bom é o Senhor”.
   II leitura: Do final da 2 Carta a Timóteo 4,6-8.17-18, em que Paulo traça, por assim dizer, o seu testamento autobiográfico, recorrendo a três imagens. A primeira provém do culto, do rito de libação (2 Timóteo 4,6) que consiste em derramar um pouco de vinho ou de mosto (cerca de 1,5 litros) sobre o altar, onde será queimado juntamente com a oferenda, subindo o seu perfume para o alto, para Deus. Do mesmo modo, a inteira vida de Paulo foi uma incessante subida para o seu Senhor, nada retendo para si mesmo, cá em baixo. A segunda imagem provém do mundo militar. É o combate, que Paulo combateu a vida inteira, e que qualifica de “bom” (2 Timóteo 4,7). A terceira provém do mundo desportivo, concretamente do atletismo. “Completei a minha corrida” (2 Timóteo 4,7). Como o atleta sacrifica tudo para alcançar a vitória, também Paulo despendeu todas as suas energias para alcançar “a coroa da justiça” que o Senhor lhe dará no dia do juízo (2 Timóteo 4,8), e que é bem diferente da “coroa corruptível” que os atletas conquistam no estádio (1 Coríntios 9,25).
   Evangelho: Mateus 16,13-19 que nos falado episódio em Cesareia de Filipe, onde se encontra uma das nascentes do rio Jordão. Aí construiu Herodes um templo dedicado ao Imperador César Augusto, e o tetrarca Filipe, filho de Herodes, deu à cidade, antes conhecida por Pânias, em honra do deus Pã, o nome de Cesareia, também em honra de César Augusto. Dela resta hoje a gruta do deus Pã, lugar que os peregrinos da Terra Santa costumam visitar.
   É em Cesareia de Filipe, cidade marcada pelo paganismo, que Jesus põe a questão da sua identidade. Soberanamente Jesus pergunta: “Quem dizem as pessoas que é o Filho do Homem?” (Mt 16,13), para acrescentar logo de seguida, de forma direta e enfática: “E vós, quem dizeis que Eu sou?” (Mt 16,15).
   A esta pergunta, posta por Jesus aos seus discípulos que de há muito o seguiam, Simão Pedro foi rápido a responder: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo!” (Mt 16,16). Jesus declara Feliz Simão, filho de Jonas, não por achar que ele reunia competência humana para expressar aquele dizer, mas por saber que o tinha recebido do Pai (Mateus 16,17).
   Note-se bem que quem constrói a Igreja é Jesus, e não Pedro, e a Igreja a construir também é de Jesus, e não de Pedro: “sobre esta pedra construirei a minha Igreja”, diz Jesus. Em todo o Novo Testamento, só Jesus e Pedro recebem o apelativo de “pedra”. “Rocha”, “rochedo”, “pedra firme”. O Salmista diz: “O Senhor é a minha Rocha e a minha fortaleza , nele me abrigo, meu Rochedo, meu escudo e meu baluarte, minha torre forte e meu refúgio” (Salmo 18,3).
   Jesus declara de seguida: “Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus” (Mt 16,19). As chaves representam um saber e um poder. Falamos de chaves de uma casa, de uma cidade, de um tesouro. Vejamos o texto de Isaías 22,19-23, que fala do “rito das chaves” e do poder retirado a Shebna e conferido a Eliaqîm.
   As chaves do Reino dos Céus são as chaves do amor e do perdão, traves mestras de uma comunidade unida e confiante, com os pés na terra e o olhar fixo em Deus. Diz, na verdade, a Constituição Dogmática Lumen Gentium: “Aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo” (LG, 9).
   Podemos assim observar, Pedro é a Pedra e tem as Chaves do Reino dos Céus, e é-lhe ainda dada a autoridade de ligar-desligar, isto é, de perdoar: “Tudo o que ligares sobre a terra, ficará para sempre ligado nos Céus, e tudo o que desligares sobre a terra, ficará para sempre desligado nos Céus” (Mt 16,19). No Evangelho de Mateus, e só no Evangelho de Mateus, esta autoridade de ligar-desligar, isto é, de perdoar, é também confiada à inteira comunidade, exatamente nos mesmos termos em que é confiada a Pedro: “Em verdade vos digo: tudo o que ligardes sobre a terra, ficará para sempre ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra, ficará para sempre desligado no céu” (Mateus 18,18). É belo ver a inteira comunidade assente na Pedra, que é Pedro, como Pedro, com Pedro, não alijando responsabilidades, mas unida, reunida e operante na prática quotidiana do Perdão!
Luis Filipe Dias

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