A liturgia do segundo Domingo do Tempo Comum
propõe-nos uma reflexão sobre a disponibilidade para acolher os desafios de
Deus e para seguir Jesus. Hoje somos convidados a seguir Jesus e deixar-nos
seduzir por sua força e por seus ensinamentos. Vivamos este dia na certeza que
Ele é a nossa melhor escolha.
Na Leitura do Primeiro Livro de Samuel 3,3b-10.19, vemos a dificuldade de
entender o chamado do Senhor.

O texto relata a vocação do jovem Samuel, que
ainda não conhecia o Senhor, foi chamado várias vezes e só na quarta vez
entendeu que era um chamado e respondeu. Esta passagem bíblica nos fala das
dificuldades em reconhecer a voz do Deus que chama; mostra a dificuldade que
qualquer chamado tem no sentido de identificar a voz de Deus, no meio da diversidade
de vozes e de apelos que todos os dias atraem a sua atenção e seduzem os seus
sentidos.
O Salmo 39
(40) nos mostra que é necessário responder positivamente ao chamado do
Senhor, devemos estar prontos para com satisfação realizar a vontade de Deus.
Eu disse: “Eis que venho, Senhor! Com
prazer faço a vossa vontade”.
Esperando, esperei no Senhor e, inclinando-se,
ouviu meu clamor. Canto novo ele pôs em meus lábios, um poema em louvor ao
Senhor.
Sacrifício e oblação não quisestes, mas abristes,
Senhor, meus ouvidos; não pedistes ofertas nem vítimas, holocaustos por nossos
pecados.
E então eu vos disse: “Eis que venho!” Sobre mim
está escrito no livro: “Com prazer faço a vossa vontade, guardo em meu coração
vossa lei!”
Boas-novas de vossa justiça anunciei numa grande
assembleia; vós sabeis: não fechei os meus lábios!
Na leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios 6,13c-15a.17- 20, vemos
claramente que nosso corpo é santuário do Espírito Santo e como tal deve ser
cuidado e respeitado.

A Comunidade de Corinto era forte e vigorosa, porém
no centro da cidade, o templo de Afrodite, a deusa grega do amor, atraía os
peregrinos e favorecia os desregramentos e a libertinagem sexual. Os cristãos,
naturalmente, viviam envolvidos por este mundo e acabavam por transportar para
a comunidade alguns dos vícios da cultura ambiente. Paulo nos alerta sobre o
valor de cada pessoa humana. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus e
somos templos do Espírito Santo.
No evangelho, João Batista afirma que Jesus é o
cordeiro de Deus. (Jo 1,35-42)

38Voltando-se para eles e vendo que o estavam
seguindo, Jesus perguntou: “O que estais procurando?” Eles disseram: “Rabi (que
quer dizer: Mestre), onde moras?”
39Jesus respondeu: “Vinde ver”. Foram pois ver onde
ele morava e, nesse dia, permaneceram com ele. Era por volta das quatro da
tarde.
40André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que
ouviram as palavras de João e seguiram Jesus. 41Ele
foi encontrar primeiro seu irmão Simão e lhe disse: “Encontramos o Messias”
(que quer dizer: Cristo).
42Então André conduziu Simão a Jesus. Jesus olhou bem
para ele e disse: “Tu és Simão, filho de João; tu serás chamado Cefas” (que
quer dizer: Pedra). — Palavra da Salvação. — Glória a vós, Senhor.
O Evangelho nos apresenta os primeiros três
discípulos de Jesus: André, um outro discípulo não identificado e Simão Pedro.
Os dois primeiros são apresentados como discípulos de João e é por indicação de
João que seguem Jesus. Nos mostra que a vocação nasce do testemunho das pessoas,
no caso de João Batista, André e do próprio Jesus. Narra o encontro dos primeiros discípulos com Jesus de Nazaré. Foi André
quem conduziu Simão, seu irmão, até Jesus.
As leituras desse domingo dão uma atenção
especial à vocação, ao chamado de Deus, mostra como deve ser o cristão. A
segunda leitura fala do valor do corpo como tal e o fato de sermos membros do
corpo de Cristo. Paulo nos alerta sobre o valor de cada pessoa humana. Fomos criados
à imagem e semelhança de Deus e somos templos do Espírito Santo.
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Santa Teresa de Calcutá |
Paulo convida os cristãos de Corinto a viverem
de forma coerente com o chamamento que Deus lhes fez. No crente que vive em comunhão
com Cristo deve manifestar-se sempre a vida nova de Deus. Se os cristãos são membros
de Cristo e se vivem em comunhão com Cristo, os comportamentos desregrados no
domínio da sexualidade não fazem qualquer sentido; se os cristãos são “Templo
do Espírito” e os seus corpos são o lugar onde se manifesta a vida nova de
Deus, certas atitudes e hábitos desordenados de desrespeito ao corpo humano não
são dignos dos cristãos.
Na primeira leitura vemos a incerteza de
Samuel, diante de chamados desconhecidos é necessária a interferência de Eli
para que ele reconheça sua vocação e se mostre pronto a atender ao chamado. Normalmente
no início da nossa vida e ao longo da caminhada na fé, há o testemunho de
alguém que nos mostra Jesus, nossos pais, amigos ou catequistas.
O
testemunho do cristão é fundamental para que outros se disponham a trilhar o
mesmo caminho. É necessário ir onde mora o Mestre, ver,
permanecer em sua companhia e sair em missão com ele. É impossível encontrar-se
com Jesus Cristo sem iniciar uma reviravolta em nossa vida. A experiência pessoal
de Jesus Cristo é o ponto de partida para a descoberta do sentido da vida.
Assim como Samuel não devemos apenas ouvir com
os ouvidos; mas acolher no coração e transformar aquilo que se ouviu em
compromisso de vida.
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São Pio de Pietrelcina |
Acolher o chamamento de Deus significa assumir,
em todos os momentos e circunstâncias, comportamentos coerentes com a nossa
opção por Cristo e pelo Evangelho. Nada do que é egoísmo, exploração do outro,
abuso dos direitos e dignidade do outro, procura desordenada do bem próprio à
custa do outro, pode fazer parte da vida do cristão. O cristão é alguém que se comprometeu
a ser um sinal vivo de Deus e a testemunhar diante do mundo – com palavras e
com gestos – essa vida de amor, de serviço, de doação, de entrega que Deus, em
Jesus, nos propôs. Membro do “corpo” de Cristo, o cristão é “corpo” no qual se
manifesta a proposta do próprio Cristo para os homens e mulheres do nosso
tempo. Isto obriga-nos a comportamentos coerentes com o nosso compromisso batismal.
Devemos ainda comentar uma figura que muitas
vezes passa desapercebida nos evangelhos, a figura de André, o discípulo de
João Batista que segue Jesus e leva Pedro a sua presença, seu comportamento nos
mostra a importância da nossa comunidade, das pessoas que a compõem que muitas
vezes são responsáveis por fazer surgir em nós a consciência do caminho
apontado por Jesus.
Caminhos que descobrimos através das
indicações, das partilhas que fazem conosco, André, Eli, João Batista nos
ensinam a nunca nos tornarmos protagonistas ou a atrair sobre nós as atenções;
eles ensinam-nos a sermos testemunhas de Jesus, não de nós próprios.
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Carla Matos |
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