segunda-feira, 1 de junho de 2015

Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo – Festa de Corpus Christi (04/06/2015)

   Corpo e Sangue da nova aliança: Deus fez aliança com Israel ao libertá-lo do Egito. Esse pacto foi instituído por meio de um rito. Primeiramente, o sangue do cordeiro foi derramado em substituição da vida dos primogênitos hebreus. Depois o rito continuou na celebração de uma refeição, a ceia pascal, memorial de libertação, celebrada a cada ano pelos filhos de Israel para atualizar aquele evento fundador e paradigmático da religião bíblico-judaica.
   Comentário dos textos bíblicos
   Evangelho (Mc 14,12-16.22-26): Tomai e comei, isto é o meu Corpo.
   No Oriente antigo, o sangue simbolizava a totalidade da vida de um ser, animal ou humano. Por isso, quando o sangue de um animal era oferecido a Deus, na verdade o que se ofertava era a vida da pessoa que fazia a oferenda.
   O termo sacrifício significa “tornar sagrado”; portanto, quando o sacerdote colocava o sangue do animal sobre o altar, a vida da pessoa ofertante é que se tornava sagrada, ou seja, consagrada a Deus. A ideia de “Sacrifício” não tinha a atual conotação de “realização de algo difícil ou penoso”, mas de santificação ou sacralização da vida.
   Antes de derramar o sangue na cruz, Jesus fez de sua vida uma oferta a Deus e à humanidade. Por isso ele antecipa, no gesto profético da última ceia, o que se dará no momento culminante do dom de si mesmo, a morte na cruz. É por causa de uma vida inteira ofertada, a Deus e ao outro, que a morte de Jesus, cume dessa oferta, pode ser chamada de sacrifício. A vida inteira de Jesus é sacrifício, é uma vida consagrada, santificada. Jesus oferta a própria vida como nosso representante.
   Sua obediência e fé integral nos substituem, já que não conseguimos ser obedientes e fiéis da mesma forma. Sua vida humana sem pecados nos liberta do pecado, sua ressurreição nos liberta da morte. Em tudo isso Jesus nos representa e nos substitui. Cessam daqui por diante os antigos sacrifícios de animais. O sangue, a vida ofertada da nova aliança é o que vigora doravante.
   As palavras do Senhor: “Isto é o meu corpo... isto é o meu sangue”, “tomai e comei... tomai e bebei”, deveriam nos recordar de que nos compete assimilar em nossa vida as características da vida de Jesus.
   Dessa forma, no Corpo e Sangue de Cristo vive e cresce a Igreja, com os fiéis continuamente se alimentando de amor, de fidelidade, de doação ao outro, de perdão e de todos os aspectos de vida de Jesus.
   O Corpo e sangue de Cristo são centro e sustentáculo da vida cristã. Por isso, quem deles se alimenta há que aceitar participar da doação de vida realizada por Cristo, em adesão à vontade do Pai e em doação ao próximo. Assim, por meio da Eucaristia, os fiéis vivem o mistério da vida, morte e ressurreição de Cristo, celebrando agora a comunhão sem fim na glória eterna. 
   I leitura (Ex 24,3-8): Este é o sangue da aliança que o Senhor fez convosco
   A expressão “sangue da aliança” remete a Êxodo 24,8, à aliança no Sinai selada com o sangue de animais. O profeta Jeremias anunciou a nova aliança (Cf. Jr 31,31-34), que foi selada definitivamente em Cristo “pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, perfeita e realizada de uma vez por todas” (Cf. Hb 10,10). O “sangue derramado em favor de muitos” alude, de modo especial, a Isaías 53,12 e indica que Jesus é o Servo sofredor por excelência, que entrega a vida pela salvação da humanidade. A Eucaristia torna-se o memorial da nova aliança, plenificada na morte redentora de Cristo.
   A leitura do livro do Êxodo descreve a conclusão da aliança no Sinai entre Deus e o povo. Moisés, depois de fazer a experiência do encontro com o Senhor (19,3;24,1-2), reúne o povo e comunica “todas as palavras e todos os decretos do Senhor” (24,3). Trata-se especialmente dos dez mandamentos (20,1-21) e do código da aliança (20,22-23.33). O povo compromete-se a seguir o caminho da aliança, que proporciona a comunhão com Deus e entre si: “Faremos tudo o que o Senhor nos disse” (24,3).
   O salmo 115 (116) é uma oração de louvor e ação de graças ao Senhor, pois foram quebradas as cadeias da opressão. O salmista ergue o cálice da salvação e invoca o nome do Senhor, como sinal de compromisso.
   II leitura (Hb 9,11-15): Cristo ofereceu a si mesmo como oferta sem mácula
   A leitura da carta aos Hebreus acentua que Cristo ressuscitado é o novo sacerdote, que entrou no santuário através da tenda maior e mais perfeita. Com a única oferenda de si mesmo, levou à perfeição para sempre os que Ele santifica (Cf. 10,14), superando os sacrifícios antigos.
   Como a conclusão da aliança se realizava mediante a efusão de sangue (Ex 24.6-8), a nova aliança revela-se plenamente na morte redentora de Cristo em favor de toda a humanidade. Assim, Cristo é ressaltado com “mediador da nova aliança” (9,15).
   Ligando a Palavra com a ação eucarística
   A Eucaristia é o memorial do mistério pascal de Cristo, sela paixão, morte e ressurreição. Deus sela a aliança eterna e definitiva com a humanidade através da oferenda única e perfeita de Jesus (Hb 10,10-18), que é atualizada na liturgia por meio da ação do espírito Santo. Ao comungarmos do corpo e sangue, em cada celebração, “estaremos proclamando a morte do Senhor, até que Ele venha” (1 Cor 11,26), comprometidos  a formar o autêntico corpo eclesial.
   Esta Solenidade faz eco da celebração de Quinta-feira Santa e nos faz reviver os mesmos acontecimentos de forma mística e concreta: celebramos o mistério da entrega do Senhor Jesus.
   A Eucaristia é o memorial perene de Sua Paixão, o cumprimento perfeito das figuras da Antiga Aliança e o maior de todos os milagres de Cristo.
Luis Filipe Dias



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