sexta-feira, 2 de setembro de 2016

"Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo." (04/09/2016)

   O seguimento de Jesus: Estamos no mês da Bíblia, pois setembro é tradicionalmente assinalado como o mês da Bíblia. Ela é sempre uma luz em nossa caminhada cristã. O Tema deste ano é: “Para que n’Ele nossos povos tenham vida” e o lema é: “Praticar a justiça, o amor à misericórdia e caminhar com Deus”. (Miqueias 6,8)
   Hoje a liturgia nos fala do Seguimento de Jesus e suas exigências. Não é um caminho de facilidade, mas sim de renúncia. À medida que avançamos nesta caminhada, fazemos o esforço de nos configurarmos a Cristo, de nos deixarmos moldar pela sabedoria do Evangelho.
   A primeira Leitura é uma oração atribuída a Salomão, que os judeus de Alexandria rezavam a fim de que iluminasse as exigências da fé em meio ao mundo pagão em que se encontravam. Só em Deus é possível encontrar a verdadeira felicidade e o sentido da vida. (Sb 9,13-19)
   Na segunda Leitura, Paulo aplica as consequências do seguimento de Jesus: intercede em favor de um escravo fugitivo (Onésimo), junto a seu "dono" (Filêmon, o amigo de Deus), para que o receba não mais como um escravo, mas como irmão.  (Filêmon 9b-10.12.17)
   O Evangelho de Lucas aponta o “Caminho do Discípulo”.  Isso nos causa um forte impacto. Família e a própria vida devem ser deixados, a cruz deve ser abraçada, os bens, abandonados e devemos aprender a conviver com a palavra “desapego”. O que une o discípulo a Jesus é realmente mais forte do que os laços familiares. Jesus não engana os discípulos. Ele os poderia motivar e convencer a segui-lo para depois mostrar as dificuldades, mas não, Ele está a caminho da Cruz e já adverte os seus seguidores dos perigos da adesão a Ele, numa atitude de realismo prático. (Lc 14,25-33)
   Jesus estava a caminho de Jerusalém, onde ele sabia de antemão que iria morrer na Cruz. O Povo o seguia entusiasmado pela sua pessoa. Mas Cristo não era um demagogo, que fazia promessas fáceis, para atrair multidões. Ele sabia que entre eles havia os bons, desejosos da boa palavra que buscavam sinceramente o Messias; os curiosos em satisfazer o desejo de novidade; e os interesseiros que viviam na esperança de participar da glória e da fama; e mesmo os inimigos sempre à espreita de uma ocasião para acusá-lo e condená-lo.
   Sem medo de perder alguns simpatizantes, Jesus aponta três condições para segui-lo:
1. Desapego afetivo e total aos familiares até à própria vida: “Quem não ‘odeia’ o seu pai, sua mãe e até a própria vida, não pode ser meu discípulo...”. Odiar aqui não significa rejeitar os sagrados laços familiares, mas priorizar os valores do Reino.
2. Disponibilidade em carregar a Cruz: “Quem não carrega a sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo...”. A Cuz é a imagem que melhor sintetiza toda a vida de Cristo. O “Discípulo” é convidado a imitar o Mestre no seguimento do seu exemplo.
3. Renúncia aos bens materiais: “Quem não renunciar a tudo não pode ser meu discípulo...”. Vivendo em função dos bens, não sobra espaço para Deus, nem relações de partilha e solidariedade com os irmãos.
   Seguir o Mestre, não deve ser uma atitude passageira, nascida num momento de entusiasmo, mas sim, uma decisão ponderada, amadurecida e coerente até o fim. Duas pequenas Parábolas ilustram bem a necessidade de planejar a vida e assumir as consequências: uma torre a construir e a guerra a conduzir. O Povo não podia se deixar levar pelo entusiasmo momentâneo, devia calcular bem, se está em condições de perseverar até ao fim.
   O seguimento de Cristo será um caminho fácil, onde cabe tudo ou um caminho exigente, onde só cabem os que aceitam a radicalidade de Jesus no desprendimento das coisas e das pessoas? Nossa Pastoral deve facilitar tudo, ou ir pelo caminho da exigência do evangelho?
   A maioria do nosso povo se diz “cristão” e seguidor de Cristo. Recebe os Sacramentos de Iniciação mais um menos com convicção. Reconhece os valores de Deus e da Fé, mas a vivência cristã e o testemunho de vida deixam muito a desejar. Muitas vezes, ficamos felizes, quando vemos a igreja lotada. Pior que ter igrejas vazias, é ter igrejas cheias de gente vazia de sentido.
   Qual é o verdadeiro motivo que leva muitas pessoas à igreja? Que buscam os nossos irmãos na comunidade cristã? Todos participam com entusiasmo das cerimônias solenes, das procissões, das romarias, mas estarão realmente conscientes dos compromissos que a fé cristã envolve?
   Que nos pede o Evangelho de hoje?  Será que Cristo está mais interessado no número, ou na qualidade?
   Há dois tipos de Religião: a revelada e a criada. Será revelada aquela em que a Bíblia é a fonte de inspiração. É Deus que se revela e nós aceitamos o que essa revelação nos propõe, criada será aquela que foi inventada pelos homens, segundo o modelo que mais satisfaz seu modo de pensar e de agir. Qual nos dá mais segurança de realizar o Plano de Deus?
   Uma religião mais fácil pode até ser mais atraente, mas certamente não será a mais fiel à proposta de Cristo. Estamos nós dispostos a ser verdadeiros Discípulos de Cristo, pelo caminho duro e exigente, que o evangelho de hoje nos propõe?  Peçamos a Deus que nesta celebração nos conceda muita luz para compreendermos essa verdade e muita força para sermos fiéis à escolha feita de o seguir até às últimas consequências. Procuremos neste mês dedicado à Bíblia, valorizar ainda mais a Palavra de Deus, dedicando-lhe um tempo especial no nosso dia a dia, para uma pratica atenciosa leitura orante da Bíblia.
   Toda a caminhada supõe que haja alimento para que consigamos chegar à meta. Alimentemos a nossa espiritualidade na mesa da eucaristia que pé fonte de vida (DAp. N.354). Vivamos o seguimento na radicalidade, com toda a liberdade. Busquemos sempre na Eucaristia o sentido para essa caminhada, uma vez que nela participamos sacramentalmente da vida eterna, meta de todo o nosso peregrinar nesta vida como povo santo e pecador.
“Senhor, dai-me coragem para começar e para perseverar sem medo”.
Luis Filipe Dias

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